Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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A antimágica: comprar fundos de investimento com mais retorno não dá retorno

Se for levar em conta os ganhos, é preciso aumentar análise para mais de 12 meses para resultados melhores

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“Então é Natal, e o que você fez?”, questionará a cantora Simone no som ambiente de milhares de lojas país afora em poucos dias. Espero que você tenha conseguido poupar e investir o bastante para manter as contas em dia e distribuir presentinhos para os mais queridos, aliás.

Estamos acostumados a olhar o ano como uma medida pronta para avaliar o nosso desempenho. É algo puramente discricionário, mas imagino que venha de quando começamos a plantar e colher nossos alimentos.

Com quatro estações a se repetir no ano seguinte, faz todo o sentido contar quanta comida ainda temos no estoque e calcular o que faltará ou sobrará de milho ou algodão.

E nos acostumamos a essa medida para tudo. Na escola, nossos filhos serão avaliados e saberemos se “passaram de ano”. Na empresa, é hora de avaliar promoções de cargo e orçamentos.

E nos investimentos? Um ano é o bastante para avaliar se as empresas nas quais você investe deram resultado? E os fundos que ficaram com seu dinheiro, o que fizeram?

Começam a aparecer, e é natural que isso aconteça, os rankings de melhores do ano: as melhores ações de 2020; os fundos com mais retorno. E a gente clica na notícia torcendo para ver quais investimentos da nossa carteira estão por lá.

Se você escolheu ações e fundos que tiveram ótimo desempenho neste ano tão atípico, parabéns para você e/ou para quem te assessora. Mas se a sua seleção não está com os queridinhos dos rankings, nada de desespero. Talvez o rendimento nos 12 meses que acabaram de passar não digam muito sobre o futuro no mundo das finanças.

A gestora de fundos Pandhora acaba de divulgar um estudo onde seus especialistas exploraram o tema de uma maneira interessante, usando fundos de investimento. O resultado pode fazer você mudar o jeito que monta a sua carteira.

Primeiro, selecionaram um grupo de fundos que refletisse bem o mercado: usaram aqueles que compõem o IHFA, índice de fundos multimercado (hedge funds) da Anbima (a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

Isso pode ser comparado a escolher apenas ações que compõem o Ibovespa, em vez de olhar todos os papéis negociados na Bolsa. Para estar no IHFA, os fundos devem atender a uma série de critérios como cobrar taxa de performance e não ser fechado.

Depois, usando o rendimento desses fundos desde 2015 até o fim do mês passado, criaram dois investidores hipotéticos, que sempre teriam 20 fundos em suas carteiras. O primeiro, reavaliaria sua carteira de três em três meses. O outro, anualmente. A cada reavaliação, formariam suas carteiras apenas com os 20 fundos com maior rendimento.

Como segunda variável, além do tempo de troca da carteira, alteraram o período analisado para encontrar os fundos com maior rendimento (lookback window). Assim, tanto as carteiras alteradas anualmente como trimestralmente teriam três possibilidades: usar os fundos que mais renderam nos últimos três, 12 ou 36 meses.

Surpreende o fato de as carteiras anuais com lookback window de três e 12 meses terem chegado exatamente ao mesmo resultado no período. Ambas renderam 110% do CDI. O IHFA, que pretende refletir o desempenho do mercado, rendeu 125%.

Tanto nas carteiras anuais quanto nas trimestrais, levar em conta o rendimento dos últimos três anos trouxe os melhores resultados. Mas somente a carteira reavaliada anualmente levando em conta os últimos 36 meses teve retorno acima do índice. Rendeu 135% do CDI.

A conclusão que se pode tirar apenas com os dados do estudo é que a lookback window de 12 meses é pequena para avaliar seus investimentos e tende a dar resultados semelhantes a quando se avalia os rendimentos no último trimestre. Aumentar o período analisado leva a resultados futuros melhores.

Quando olhamos para um horizonte maior, no entanto, a verdadeira lição é que avaliar apenas o retorno na hora de decidir quais fundos (e ações) comprar não traz necessariamente resultados positivos para sua carteira. O segredo está na diversificação, mas isso é assunto para outra coluna.

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