Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Bolsa-diesel, fura-teto e o mistério do mercado que derrete enquanto o mundo lucra

As consecutivas quedas mostram apenas a falta de compromisso dos governantes com qualquer estabilidade

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Quando as Bolsas estrangeiras sobem, a brasileira cai. Quando elas caem, a nossa despenca, lamentava um investidor, em roda de conversa, nesta quarta-feira (20). No dia seguinte, o adágio confirmou-se de maneira lamentável: enquanto o S&P 500 (principal indicador do mercado dos EUA) bateu seu recorde histórico, o nosso Ibovespa caiu 2,75% e fechou o pregão desta quinta-feira (21) no pior nível do ano.

E onde está o segredo? As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá? A possível redução da demanda chinesa e o medo dos efeitos da quebra da construtora Evergrande também machucam os investidores norte-americanos.

O que não os atinge é o ministro da Economia, Paulo Guedes, tratando com naturalidade a possibilidade de furar o teto de gastos, como fez. Também não afeta a vida dos estadunidenses quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, promete um auxílio a cerca de 750 mil caminhoneiros, "para compensar o aumento do diesel".

Homem observa painel da Bolsa de Valores brasileira registrando forte queda nos índices acionários após anúncio de aumento no novo Bolsa Família - Amanda Perobelli/Reuters

Após o anúncio de Bolsonaro, nesta quinta-feira (21), o Ibovespa chegou a cair quase 4,5% no dia. Mas recuperou um pouco da pontuação antes do fechamento.

Pois bem, o governo que se colocava como o "conservador nos costumes e liberal na economia" durante a campanha eleitoral, o mesmo que falou sobre privatizar a Petrobras na semana passada —em uma jogada mal ensaiada—, agora quer distribuir dinheiro para quem é atingido pela alta dos combustíveis.

Nada por acaso. O anúncio do tal bolsa-diesel vem na esteira de uma ameaça de greve de caminhoneiros. Quem se lembra dos efeitos deletérios da última grande greve dos motoristas sobre a economia entende por que a cartada do "dinheiro grátis" saiu da cartola de Bolsonaro.

À época da greve, em maio de 2018, a Bolsa levou um tombo do qual só foi se recuperar coisa de seis meses depois. E os efeitos políticos são sentidos até hoje.

Já a ideia de amarrar a distribuição do Auxílio Brasil (nova etiqueta para o Bolsa Família) de R$ 400 à necessidade de furar o teto de gastos públicos é a licença nada poética que só interessa ao candidato Bolsonaro. Se o Congresso barrar, ele diz "eu tentei". Se passar, lança-se como salvador.

Fingir que o teto inviabiliza o programa de distribuição de renda é um golpe baixo. Pune-se os mais pobres pelo descontrole sobre os gastos públicos e pela incapacidade de levar adiante reformas que tenham algum resultado efetivo.

Vale lembrar que deputados têm apontado, à luz do dia, a falta de empenho do governo para aprovar a reforma administrativa. Aliás, uma extensão desse projeto de reforma que atinja carreiras de militares, parlamentares, procuradores e magistrados poderia gerar economia de R$ 31,4 bilhões aos cofres públicos em dez anos, de acordo com o economista Daniel Duque, do Centro de Liderança Pública (CLP).

Coincidentemente, o crédito extraordinário (fura-teto) que Paulo Guedes quer emplacar é de R$ 30 bilhões.

Não existe mistério no comportamento da nossa Bolsa em relação aos mercados globais. As consecutivas quedas mostram apenas a falta de compromisso dos governantes com qualquer estabilidade.

Investimentos em ouro, dólar e outros mercados podem ajudar a balancear a carteira de investimentos para quem já se prepara para a turbulência do ano eleitoral.

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