Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Marcos de Vasconcellos
Descrição de chapéu sustentabilidade

Investimento verde é coisa de rico

Não sei se ficaria melhor arrematar com um infelizmente ou com um ainda

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Antes de mais nada, caro leitor, gostaria de complementar o título do texto. Mas não sei se ficaria melhor arrematar com um pessimista "infelizmente" ou com um otimista "ainda". Deixo a cargo de cada um.

Os investimentos verdes, sustentáveis ou atrelados às letrinhas ESG (que pressupõem boa governança corporativa, ambiental e social), tiveram um belíssimo aumento, em todo o mundo, desde o início da pandemia de coronavírus. Mas, convenhamos, para algo que era praticamente inexistente, qualquer aumento é percentualmente relevante.

Um relatório do Banco Mundial publicado neste mês mostra que, em 2020, o número de títulos soberanos verdes —emitidos pelos países, para arrecadar fundos a fim de incentivar o uso de energia renovável ou cumprir metas de redução de emissão de carbono— mais do que dobrou. E sua arrecadação passou dos US$ 41 bilhões (quase R$ 215 bilhões).

Imagem aérea de usina solar
Usina fotovoltaica financiada pelo BDMG na cidade de Manga, no norte de Minas Gerais - Divulgação/João Dias

O valor equivale ao PIB (Produto Interno Bruto) do Paraguai, mas a pouco mais de dois anos dos gastos com o programa Auxílio Brasil. E isso significa menos de 0,5% do mercado mundial de títulos de dívida soberanos.

O Banco Mundial divide os países em quatro classes: alta renda (como Estados Unidos, Japão e Itália); renda média alta (Brasil, China, Peru…); renda média baixa (Índia, Senegal, Filipinas…); e renda baixa (como Etiópia e Nigéria).

E a conclusão é que cerca de 60% dos países de alta renda possuem instrumentos financeiros públicos atrelados à sustentabilidade, enquanto o mecanismo é aplicado em aproximadamente 25% dos países com renda média alta e em pouco mais de 10% dos países com renda média baixa. A quarta categoria de nações nem sequer aparece.

Ao olharmos também para os títulos de dívida (ou bonds) do setor privado, temos números mais "frescos" e significativamente mais altos. Em 2021, o número de títulos verdes emitidos praticamente dobrou, atingindo US$ 621 bilhões (R$ 3,25 trilhões). Onde foi emitida a maior parte? Na Europa, claro.

Uma boa surpresa vem de um péssimo motivo: na busca por saídas para os mais impactados economicamente pela pandemia, houve um tremendo aumento dos "títulos sociais" (social bonds), cujo objetivo é financiar iniciativas que atuem na solução de problemas de moradia, segurança alimentar e acesso a serviços essenciais.

Em 2021, houve um boom de "títulos sociais", que financiaram projetos como empréstimos para compra de casas, financiamento de agricultores, expansão do acesso à saúde e a água potável. Foram levantados US$ 206 bilhões (R$ 1 trilhão) por esse meio em 2021, e a previsão é chegar a US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) neste ano, de acordo com John Gandolfo, vice-presidente da IFC (International Finance Corporation).

Veja bem: não se trata de caridade. São títulos de renda fixa, emitidos por governos ou por players do setor privado, com diferentes retornos e fatores de risco.

Por mais que haja clara necessidade de captação e ótimos projetos no Brasil, a questão aqui ainda engatinha.

Para quem busca investir em projetos com papel social e ambiental, um caminho interessante é aplicar em ETFs (fundos com cotas negociados em Bolsa) que compram esse tipo de papel. A variedade na Bolsa brasileira é pequena, tornando mais interessante, para os entusiastas, ter essa parte de seus investimentos no exterior. Afinal, investimento sustentável (ainda) é coisa de (país) rico (infelizmente).

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