Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Descrição de chapéu Folhainvest

'Succession' à brasileira na Bolsa

Solução pouco criativa da CVC para tentar retomar o rumo é ligar-se de novo à família que a criou

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O fenômeno de popularidade da série "Succession", da HBO, após o seu fim, no último mês, deixou uma pulga atrás da orelha dos investidores que acompanharam a saga da família Roy. Filtrando os dramas dos personagens e suas perversões, resta uma longa discussão sobre a sucessão de empresas familiares e um questionamento importante: quais dos nossos investimentos estão sujeitos a questões pessoais e das famílias de seus controladores?

Um movimento ocorrido neste mês rende boas histórias para quem quer acompanhar as entranhas sanguíneas do mundo corporativo: a CVC, gigante do turismo e única nacional do setor na nossa Bolsa, voltou às rédeas da família Paulus.

Em 2010, eles venderam o controle da companhia para um fundo internacional, pela bagatela de R$ 700 milhões, segundo notícias da época. Atualizado pela inflação, hoje equivaleria a R$ 1,54 bilhão.

Já em 2018, o fundador da CVC, Guilherme Paulus, deixou de vez a companhia. Um ano depois, assumiu ter pagado propinas de R$ 39 milhões para livrar empresas suas de multas milionárias. Quando o caso veio à tona, a CVC pôde dizer publicamente que ele não ocupava mais nenhum quadro da companhia.

Retrato do fundador da CVC, Guilherme Paulus, de perfil, na penumbra, gesticulando enquanto fala. Vestido com uma camisa branca, ele usa óculos e relógio.
Retrato de Guilherme Paulus, fundador da CVC. - Karime Xavier / Folhapress

Acontece que os últimos anos sem a família foram penosos para a empresa. A pandemia de Covid-19 derrubou o setor de turismo lá em 2020 — e a retomada parece bem mais difícil para ela do que para seus pares.

Veja os números. De janeiro de 2020 até hoje, as ações da CVC (CVCB3) acumulam uma queda de 88%. Nas empresas de aviação nacionais, Gol e Azul, as quedas acumuladas no período são de 75% e 65%, respectivamente. Entre concorrentes internacionais, a Booking chama a atenção, por já contabilizar um aumento de 26% nos preços dos papéis desde então.

A solução pouco criativa da CVC para tentar retomar o rumo é ligar-se de novo à família que a criou. O fundador, Guilherme Paulus, comprometeu-se a injetar R$ 75 milhões na empresa, em troca de uma fatia de ações, com um belo desconto no preço.

Com Paulus, volta também Fabio Martinelli Godinho, que assume o cargo de CEO da empresa. Homem de confiança da família, ele participou da venda para o fundo estrangeiro e da própria abertura de capital da CVC.

A gigante do turismo é um exemplo preciso do dilema entre deixar uma grande corporação nas mãos de uma família ou deixar sua gestão mais profissionalizada, nas mãos de pessoas que não conhecem o negócio com tantos detalhes.

Os riscos da gestão familiar de grandes negócios permeiam toda a trama da aclamada "Succession". Cabe ao investidor entender como, nesses casos, seu "voto de confiança", ao comprar ações da empresa, se estende ainda mais às pessoas envolvidas na gestão da companhia.

Além da CVC, que agora volta à família Paulus, nossa Bolsa tem outros exemplos que precisam estar no radar de quem investe. No índice de negócios familiares (Family Business Index), feito pela consultoria EY, com a University of St.Gallen, o Brasil tem 11 das 500 maiores empresas consideradas familiares no mundo.

A JBS, dos Batista; a Metalúrgica Gerdau, dos Gerdau Johannpeter; e a CSN, cuja passagem de bastão para a filha de Benjamin Steinbruch, Victória, já foi ventilada pelo noticiário. Elas chamam a atenção pelo porte e pela concentração do controle.

Não é necessário nem recomendável acompanhar a vida das famílias controladoras como uma série, mas, buscando planos claros de sucessão, o investidor pode evitar virar parte da novela.

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