Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

O jogo começou

Cumprimento de promessas pode ajudar o país a reverter a degradação dos serviços públicos

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Expectativas importam na economia. Em meados de 2015, o pessimismo dominou os mercados quando ficou claro que o governo Dilma não iria entregar o ajuste fiscal prometido. Afinal, significava continuar com a degradação das contas públicas e o risco de volta da inflação ou de aumentos atabalhoados da carga tributária.

A incerteza sobre a evolução dos fundamentos econômicos levou ao aumento das taxas dos juros de mercado e à redução do investimento. O resultado foi a profunda recessão e o elevado desemprego.

O quadro mudou com o governo Temer. Mesmo sem aprovar a reforma da Previdência, houve avanços no ajuste das contas públicas, interrompendo a queda livre da economia.

Os preços dos ativos financeiros das últimas semanas refletem o otimismo com as perspectivas da economia. Ao contrário do preconceito usual, os mercados celebram quanto maior for a melhora esperada do país. A expectativa de maior crescimento resulta na valorização das empresas e em novas oportunidades de negócios.

A economia real, porém, enfrenta dificuldades. A carga tributária complexa e disfuncional tem levado muitas empresas a desistir do Brasil e a nossa regulação atrapalhada compromete os investimentos e a qualidade da infraestrutura.

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Obras de recuperação do viaduto que cedeu na marginal Pinheiros, em São Paulo - Zanone Fraissat - 23.nov.2018/Folhapress

O otimismo decorre das expectativas de que muito vai mudar. Aposta-se na capacidade de a equipe econômica implementar uma ampla agenda de reformas que melhore o ambiente de negócios e que modere o aumento dos gastos públicos. Caso ocorra o prometido, teremos maior crescimento da produção e da geração de empregos, além de permitir reverter a degradação dos serviços públicos em saúde, segurança, educação e infraestrutura.

Há razões para otimismo com a reforma da Previdência. A equipe liderada por Rogério Marinho e Leonardo Rolim combina sabedoria política com conhecimento técnico.

A dúvida decorre das declarações recorrentes contrárias a uma reforma ambiciosa da Previdência feitas pelo presidente e muitos dos seus correligionários.

As próximas semanas definirão o primeiro tempo desse jogo. O presidente vai recuar das suas declarações? A reforma vai ser para valer e incluir uma mudança profunda da Previdência para o setor público? Ou o governo vai capitular às pressões das corporações e propor medidas paliativas, como apenas aumentar modestamente a contribuição dos servidores?

Parte do desafio será explicar o tamanho do problema com base nos dados e alertar para as consequências das propostas meias-bocas. A euforia das torcidas anima os jogos de futebol, mas é importante saber como se ganha a partida. O risco é celebrar firulas enquanto a infraestrutura e os serviços públicos continuam a se degradar.

 

A boa economia não existe sem o levantamento cuidadoso dos dados. A FGV faz um trabalho inestimável de coleta dos preços de bens e serviços, por muito tempo liderado por Salomão Quadros, meticuloso e gentil. A sua partida precoce ocorre pouco mais de um ano depois da morte de Regis Bonelli, também pesquisador da FGV, que combinava como ninguém, entre os economistas, elegância no trato pessoal com atenção aos dados e à técnica. Luto.

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