Marcos Lisboa

Economista, ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005, governo Lula)

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Marcos Lisboa

Hermanos

Trajetória da Argentina e dos EUA mostra a importância das instituições e das regras do jogo

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No começo do século 20, o novo mundo era liderado pela Argentina e pelos EUA. Suas principais cidades, Buenos Aires e Nova York, impressionavam pelo urbanismo moderno, incluindo novidades como o metrô.

Os dois países, porém, tinham agendas econômicas bem distintas.

Na Argentina, havia consenso sobre a necessidade de intervenção discricionária do Estado. Nos anos 1920, a esquerda defendia a reforma agrária, e a direita, a garantia de maiores preços para os bens exportados. Nos anos 1940, a maioria defendia políticas para incentivar o desenvolvimento da indústria local, que deveria ser protegida da competição estrangeira.

Nos EUA, por outro lado, desde a independência o Judiciário garantia a liberdade de contratos e limitava a intervenção na economia. As inovações legais procuravam aperfeiçoar o funcionamento dos mercados e a governança do setor público.

No fim do século 19, aprovou-se legislação que proibia a indicação política de servidores públicos. Pouco depois, adotaram-se regras para combater cartéis, para resolver conflitos em caso de falência e para regular as condições de trabalho no setor privado. Durante décadas foram aprimoradas as normas dos mercados de crédito e de capital e criadas agências reguladoras.

Construção do metrô em Nova York em 1902
Construção do metrô em Nova York em 1902 - New York Transit Museum

Argentina e EUA exemplificam a importância das instituições e das regras do jogo para explicar o desenvolvimento desigual dos países.

A Argentina ilustra como ideias apressadas e a intervenção pública voluntariosa podem ser devastadoras em um país institucionalmente frágil. O desenvolvimento dos EUA, por sua vez, revela a importância de contrapesos institucionais, como independência do Judiciário e respeito ao Congresso, para mediar reformas e arbitrar conflitos.

No Brasil, alguns insistem em elixires milagrosos, como juros para baixo, câmbio para cima e proteção à produção doméstica. Pois bem, a taxa de juros está no seu menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em 2018 e temos mais proteções contra a importação de bens manufaturados do que qualquer país da OCDE. A indústria, no entanto, patina e a produtividade continua estagnada.

Muitos parecem nem mesmo saber contra quem debatem, propondo caricaturas irreconhecíveis, como a que neoliberais defendem valorizar o câmbio e financiar o crescimento por meio da poupança externa. Impressiona o desconhecimento da extensa pesquisa aplicada sobre desenvolvimento dos últimos 30 anos em que a macroeconomia tradicional é um tema menor.

Talvez seja hora de aposentar as narrativas de salão e seus rótulos, “neo” isso ou “neo” aquilo, e analisar com cuidado a evidência sobre o muito a fazer para retomar o desenvolvimento.

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