Jovens têm o hábito de apreciar uma festa, por vezes para desespero dos vizinhos.
Compreensível. Começando a vida adulta, não sabem muito bem o que querem fazer no futuro que lhes parece interminável. Por isso, experimentam relacionamentos e empregos. Com o destemor de quem pouco viveu, muitos ultrapassam os limites impostos pelas regras dos mais velhos.
As festas permitem conhecer gente fortuitamente em meio à algazarra da música e da dança; ambas, em geral, demasiadas para o bom senso cansado da meia-idade.
Como a imensa maioria de nós quando tínhamos a sua idade, os jovens querem testar muitas opções antes de construir relações estáveis. Por isso, estão freneticamente ocupados em inventar eventos, saber das novidades e aproveitar os encontros de multidões como se não houvesse amanhã.
Ocasionalmente, descobrem que os limites têm lá a sua razão de ser. A minha geração assistiu a muitas mortes trágicas e desnecessárias por dirigir perigosamente ou mergulhar nas drogas.
O papel dos adultos é ajudá-los nessa transição, cuidar para que não corram riscos desnecessários e protegê-los da violência. Assim fazem os pais da elite que moram em condomínios fechados. Assim tentam as demais famílias em meio à carência de segurança pública.
Os jovens, com frequência, não conseguem antecipar o que pode dar errado e se metem em enrascadas. No Brasil, porém, a pouca empatia e solidariedade das elites e dos governantes transforma a irresponsabilidade em tragédia anunciada. Muitos adultos são apenas asseclas da brutalidade.
A tragédia de Paraisópolis revela o nosso atraso. Os jovens faziam naquela noite o que muitos de nossos filhos praticam regularmente. Dançavam, conversavam e experimentavam o que não deviam, com a sua irresponsabilidade preocupante para os pais.
Só que não havia adultos para cuidar dos jovens. Pelo contrário. Alguns policiais não hesitaram em promover o pânico ao invadir a região alegadamente atrás de um atirador. Nosso Estado parece existir sobretudo para proteger o patrimônio e garantir benesses.
As vítimas em Paraisópolis foram tratadas como acidentes de percurso na trágica perseguição da última semana.
Não eram, no entanto, acidentes; eram jovens que podiam ser meus filhos. A roda da fortuna me concedeu o benefício da educação e da cidade oficial em um país partido.
As crianças de Paraisópolis nasceram no outro lado do muro, em bairros repletos de trabalhadores, porém descuidados pelo poder público.
As autoridades eleitas lustram a sua pequenez ao não chorar pela morte desses jovens. Eles se chamavam Bruno, Dennys, Denys, Eduardo, Gabriel, Gustavo, Luara, Marcos e Mateus.
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