Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Marcus André Melo

A sobrevida dos governadores

Eles que respiravam politicamente por aparelho, tornaram-se protagonistas da disputa economia versus saúde

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Os governadores voltaram ao protagonismo político com a liminar reiterando a autonomia de estados e municípios em tomar medidas de isolamento social frente a Covid-19. Antevejo que não haverá resistência do Executivo em acatá-la por pelo menos duas razões. A primeira é a própria estratégia perseguida por Bolsonaro de deslocamento da responsabilidade para prefeitos e governadores:

“A gente vai recorrer, mas tem um lado positivo até. Dizendo que claramente que quem é o responsável por ações como imposição de distanciamento social, suspensão de atividades —você que está sem trabalhar—, (…) quem decide isso é o respectivo governador ou prefeito. Afastou o governo federal de tomar decisões neste sentido.”

A segunda razão é que este tem sido o padrão observado nos últimos 15 meses em franco contraste com as previsões a respeito do governo Bolsonaro. Grande parte das análises avaliara a governabilidade futura com base em conjecturas sobre supostos os planos e intenções quando não a persona do futuro presidente.

Esta agenda pré-institucional e centrada no indivíduo faz tabula rasa da opinião pública congresso, das cortes superiores, da imprensa, do sistema partidário, dos militares. A mais nova omissão são os governadores.

O presidente Jair Bolsonaro, ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara, senador Davi Alcolumbre e deputado Rodrigo Maia, do presidente do STF, Dias Toffoli, e do vice-presidente Hamilton Mourão, durante solenidade em fevereiro
O presidente Jair Bolsonaro, ao lado dos presidentes do Senado e da Câmara, senador Davi Alcolumbre e deputado Rodrigo Maia, do presidente do STF, Dias Toffoli, e do vice-presidente Hamilton Mourão, durante solenidade em fevereiro - Pedro Ladeira - 11.fev.20/Folhapress

A rigor, o debate em torno das instituições não tem solução: a hipótese central de
escassa institucionalidade não é falsificável. Se as previsões feitas não são observadas e
o Executivo é contido, pode-se sempre apontar para a resistência e a mobilização como razão para tal.

Um indicador clássico utilizado pela literatura sobre as instituições é se elas produzem decisões e se estas são acatadas. Um rápido olhar para os poderes Legislativo e Judiciário sugere que não há paralisia decisória —as iniciativas do Executivo federal tem sido apreciadas pelo Legislativo com celeridade— e que não há registro de tentativas unilaterais pelo Executivo de sobrestá-las.

Os governadores foram os principais beneficiários do conhecido fenômeno do rally round the flag (união de todos pela pátria) que explica o crescimento da popularidade de líderes em situação de emergência. Paradoxalmente os atores que mais se enfraqueceram politicamente nas últimas três décadas no país e que respiravam politicamente por aparelho passaram também a conter e constranger o Executivo.

A pandemia representa choque exógeno que afeta os governadores de duas formas: convertendo-os em protagonistas de nova disputa política centrada na disjuntiva economia versus vidas; e fornecendo a rationale para o abandono da restrição orçamentária forte a que têm sido submetidos. Ela provê o oxigênio fiscal para o inesperado protagonismo.

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