Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Marcus André Melo

Por que alguns perdedores contestam os resultados das eleições?

Estratégias políticas estão na base de denúncias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A contestação dos resultados das eleições adquiriu enorme visibilidade após a invasão do Capitólio na esteira da derrota de Trump, e das denúncias de Bolsonaro. Mas os casos de contestação em democracias já estavam sendo cada vez mais frequentes, como mostra Hernandez-Huerta, em artigo recente no Journal of Politics (2020).

Usando uma base de dados contendo 164 eleições presidenciais entre 1974 e 2012 em 31 países da América Latina, África e Ásia, o autor mostra que as contestações aumentaram, e representam quase 25% dos pleitos da amostra.

Há achados contraintuitivos no estudo: as contestações independem da qualidade das eleições e dos graus de autonomia política dos órgãos eleitorais. Elas não são deflagradas necessariamente por fraudes —este ponto é crucial— mas por incentivos estratégicos. Em geral são perdedores de eleições, minoritários no Congresso, que buscam extrair ganhos e concessões.

A experiência brasileira é parcialmente consistente com estes achados. Lula, às vésperas do pleito de 1994, reagindo às pesquisas que lhes eram desfavoráveis alertou, nesta Folha, que poderia haver fraude: “Desviar dois ou três milhões de votos neste país é mais fácil que tirar pirulito de criança”.

Já o caso de Bolsonaro é pouco intuitivo à luz dos achados. Ele vem contestando as urnas eletrônicas desde o início da campanha eleitoral de 2018, quando nenhum analista antecipava uma vitória, e paradoxalmente continuou com a retórica mesmo quando venceu. Há aqui, portanto, um novo padrão associado à onda populista pela qual outsiders antissistema brandem essa bandeira porque ela fornece uma narrativa pós-eleitoral para a derrota, mas também serve para manter acesa a militância.

A “campanha permanente” voltada para alimentar a cacofonia do bolsonarismo-raiz que foi perseguida do início do mandato até abril de 2020 é parte da explicação. Mas a influência de Trump está presente, pois há um claro padrão emulativo por parte de Bolsonaro. Mas o formato descentralizado e caótico das eleições nos EUA contrasta com o caso brasileiro, onde fraude eleitoral não é um tema da agenda há muito tempo.

No entanto, dois eventos alteraram os termos do debate em torno da questão. Em primeiro lugar, a invasão do Capitólio tem um efeito-demonstração estimulando ações similares, mas também gerando reações preventivas que podem anular seus efeitos potenciais.

Em segundo lugar, a erosão da popularidade presidencial e chances reais de derrota para Bolsonaro no pleito de 2022, abrindo-se a possibilidade de uma crise institucional de grande proporções. De estratégia meramente retórica, a contestação se torna uma ameaça.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.