Marcus André Melo

Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

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Por que não ocorreu uma convergência política para o centro nos EUA?

Três explicações rivais sobre a extrema polarização nas eleições americanas

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A polarização política nos EUA vem desafiando o conhecimento acumulado na ciência política. No pós-guerra, a tendência nas democracias foi de formação de partidos cada vez mais fluidos programaticamente e com uma base social mais ampla (catch-all parties).

Isto resultou em uma convergência ideológica em direção ao centro (a rigor, a mediana da distribuição de preferências). Neste contexto, a disputa política tende a se concentrar nos eleitores voláteis que exibem baixa lealdade política e menor identificação partidária (swing voters).

O ex-presidente Donald Trump e o presidente Joe Biden durante debate eleitoral em Atlanta, nos EUA - Brian Snyder/Reuters

Essa tendência é mais forte nos países onde se adota o voto distrital, que leva ao bipartidarismo; por efeito mecânico (os partidos menores não adquirem representação), e estratégico (o eleitor desses partidos acaba não votando na sua primeira preferência), optando por um dos dois polos (voto útil).

Por isso, a representação proporcional que estimula o voto sincero, na primeira preferência, foi associada à ascensão do nazismo e do fascismo.

Nos últimos 30 anos o cenário mudou. O eleitor volátil desapareceu. Há evidências empíricas que nos EUA os dois partidos se afastaram da mediana (desvio maior no Partido Republicano); e que os parlamentares são cada vez mais extremistas que os eleitores.

Por que não há convergência? Há pelo menos três explicações rivais na ciência política.
A primeira é que houve uma crescente sobreposição entre identidades sociais e escolha partidária. Crescentemente os partidos tornaram-se homogêneos em características sociodemográficas (religião, etnia etc.). A superidentidade resultante enseja crescente polarização afetiva, tribal, sem correspondência clara com divergência em termos de opções de política pública.

A segunda é que nos EUA a política tornou-se mais competitiva a partir dos anos 1980. Até então, o Congresso era dominado pelos democratas. A margem de vitória nas eleições presidenciais se reduziu. As maiorias têm sido crescentemente instáveis, como demonstrou Francis Lee em "Insecure majorities", criando incentivos para "campanhas perpétuas". Denúncias e ataques vitriólicos podem garantir a vitória em eleições apertadas.

A terceira explicação centra-se na estrutura interna dos partidos. Até a década de 1970, o processo decisório nos partidos americanos era controlado por elites partidárias. Com a generalização das primárias nas últimas décadas, as bases partidárias e doadores passaram a ter influência crescente na seleção de candidatos. Suas preferências são desviantes em relação à mediana dos eleitores. Como resultado, o processo de seleção exibe um viés extremista em relação ao eleitorado de cada sigla.

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