Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

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Maria Hermínia Tavares

Lombada na terceira via

O desafio é demonstrar que há lugar para outra rota, capaz de seduzir eleitores

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A 13 meses das eleições presidenciais, prognósticos sobre seus resultados não passam de palpites, menos ou mais consistentes. Nem as pesquisas servem de guia: os eleitores não estão pensando na sucessão, nem está pronta a lista de candidatos à sua escolha. Até outubro de 2022 muita coisa ainda deverá acontecer.

Mas vamos lá. Hoje, as sondagens mostram que são firmes as bases de sustentação de Lula —entre 37% e 40% da população adulta, segundo a mais recente pesquisa XP-Ipesp—, bem acima da votação de Fernando Haddad no primeiro turno de 2018. Inoxidável também parece ser o apoio de 1/4 dos cidadãos a Bolsonaro.

Pela pura aritmética até que há lugar para uma terceira via centrista. Mas são significativos os obstáculos no meio do caminho. Aqui e agora, o espeto é a falta de um candidato pronto para ser o proverbial tertius. Não se vê quem possa convencer os que disputam o mesmo espaço a cedê-lo e, assim, definir o partido líder da coalizão das muitas e pequenas agremiações da centro-esquerda não petista ao centrão.

O desafio mais sério, porém, é o de demonstrar que há lugar efetivo para uma terceira rota, apta a apresentar compromissos programáticos que façam sentido para o país e seduzam os eleitores. No Brasil, estiolado por uma quadra de estagnação, pandemia e desgoverno, não há lugar —muito menos votos— para uma agenda pura de reformas liberais, ainda que moderadas, como tendem a crer defensores intelectuais daquela alternativa.

Até para que a democracia deite raiz junto à maioria da população, a reforma social precisa estar no centro das prioridades do governo. Não pode ser mera continuidade da generosa agenda de inclusão dos governos petistas, bloqueada, ainda no governo Dilma, por graves limitações fiscais que a presidente teimou em desconhecer.

Mas tampouco pode ignorar esse legado ou desmerecê-lo como reles assistencialismo supostamente a serviço de um populismo de esquerda. Os ganhos foram efetivos, superando em muito a melhoria na renda: o sistema SUS foi expandido; o acesso à educação, ampliado; o alcance da rede de energia elétrica, universalizado; ações afirmativas tornaram as elites menos branquelas.

Difícil imaginar que uma força política centrista, hostil à esquerda e com uma base eleitoral de centro-direita, dê conta de atualizar a agenda social, adaptando-a às restrições fiscais, assim como aos velhos dilemas da inclusão e aos novos desafios ambientais e do mercado de trabalho.

Pode ser que haja uma terceira força, mas, sem diálogo com a esquerda, não aplainará o caminho do progresso social.

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