Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci
Descrição de chapéu Folhajus

Cartões de loja são drones que afundam o crédito familiar

Crédito caríssimo e facilitado é chamariz para as dívidas sem lastro

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"Não prefere pagar com o cartão da loja e ganhar cashback para próxima compra?"

Cashback é dinheiro de volta para o cliente que fez uma compra. Em alguns casos, a pressão é usar o cartão (de crédito, evidentemente) para receber descontos ou outro tipo de bônus, como pagar em mais vezes sem juros.

Consumidores são pressionados, dessa forma, a multiplicar o número de cartões, que são drones a afundar o crédito familiar.

Aquele inocente cartão, muitas vezes colorido, bonito, é bem mais do que um facilitador de compras. A partir do seu uso, geralmente tem tarifa nos meses em que não for utilizado. Isso é, sem dúvida, indução ao consumo, mesmo que de algum produto baratinho.

Imagine se uma família tiver um cartão da rede de postos de combustíveis, de uns dois ou três magazines, mais um do supermercado favorito (ou do atacarejo), outros dois de lojas virtuais, fora aqueles vinculados à conta-corrente. É bem possível, então, que pessoas com renda média tenham entre cinco e dez cartões de crédito com diversas bandeiras.

Teoricamente, seriam simplesmente dinheiro de plástico, utilizados para não ter de carregar reais em espécie na carteira –que, a propósito, só têm sido utilizados para pagamentos de menor valor, pois as transações por Pix estão cada vez mais disseminadas.

Carlos Magno/Futura Press/Folhapress

Mas sabemos que não é bem assim, porque o cartão é de crédito. Essa palavra vem do latim "creditu" e significa "confiança". Portanto, um cartão de plástico, de posse de um consumidor, dá condições para que ele compre, mesmo sem dinheiro na conta-corrente naquele momento, pois a loja confia que ele pagará.

Não se trata de confiança absoluta, daquelas transações que antigamente eram asseguradas pelo "fio de bigode", ou seja, garantidas pela palavra empenhada. Quem garante que o pagamento acontecerá é a possibilidade de negativação por uma empresa especializada em proteção ao crédito.

Até o final de julho, o programa Desenrola Brasil renegociou R$ 5,4 bilhões e "limpou" o nome de 4,8 milhões de pessoas, que voltaram a ter crédito.

Estou entre aqueles que defenderam publicamente a necessidade de um programa semelhante, por diversos motivos, como o elevado desemprego –o menor neste trimestre em oito anos, mas que ainda afeta 8,6 milhões de pessoas–, as altas taxas de juros e o percentual de informalidade (trabalhadores sem registro em carteira), atualmente 39,2%.

Mas considero fundamental que sejam atacadas as causas do endividamento. As principais são estruturais: grande percentual de informalidade e baixos salários em geral. O crédito caríssimo e facilitado, contudo, é um chamariz para as dívidas sem lastro, porque não cabem no orçamento doméstico, quando ele existe.

É por aí que as pessoas perdem o sono, devem mais do que podem pagar, deixam de comprar. É por aí que caem o consumo e a produção e a economia não se recupera. Um círculo vicioso que não tem mais fim.

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