Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Abuso de compras no cartão de crédito pode eternizar o Desenrola

Consumismo e financiamento automático dos cartões vão continuar cobrando muito caro das pessoas

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Os juros do crédito rotativo dos cartões atingiram estratosféricos 455,1% em maio último, e os bancos resistem a fazer acordo com o governo para reduzir essa taxa. Se continuar tudo igual, dentro de um ou dois anos será necessário outro programa Desenrola para renegociar as dívidas das famílias em vários níveis de renda. O uso indevido do cartão de crédito é o principal combustível do superendividamento.

Por mais que os órgãos de defesa dos direitos do consumidor advirtam que compras no cartão de crédito e uso do rotativo talvez criem uma dívida impagável, o endividamento das famílias é alavancado por esse meio de pagamento, por essa forma automática de refinanciamento de débitos e pelos empréstimos concedidos até para negativados em rankings de devedores, obviamente a juros extorsivos.

Cartões de crédito - Gabriel Cabral/Folhapress

Assim como o governo federal tenta limitar sua capacidade de gastar além do que arrecada por meio do Arcabouço Fiscal (tentou antes com o Teto de Gastos), seria necessário rediscutir a relação entre crédito no cartão e a renda dos consumidores, para evitar que as dívidas se tornem permanentes, infernizando pessoas de todos os níveis de renda.

Da mesma forma que sempre é melhor evitar a doença do que ter de tratá-la, as autoridades deveriam fechar o cerco às fontes de endividamento, que, além dos cartões e dos empréstimos sem comprovação de renda, incluem múltiplos empréstimos consignados.

Todas as vezes que abordamos o superendividamento, ressaltamos a urgência da educação para o consumo, associada à educação financeira. Mas mesmo que ambas começassem agora, imediatamente e com abrangência nacional, levaria um bom tempo para conscientizar as pessoas para não se endividar, pois a renda média dos brasileiros é muito baixa, e os apelos ao consumo, muito fortes.

Atualmente, com o lançamento do filme "Barbie", a onda cor-de-rosa tomou conta dos shoppings e lojas. As vendas desta boneca, de roupas, bolsas e acessórios rosa dispararam, além da procura de ingressos nos cinemas. São apelos assim que, muitas vezes, induzem os consumidores a gastarem mais do que ganham. Quando se dão conta, as dívidas já estão fora de controle.

O consumismo e o financiamento automático dos cartões vão continuar cobrando muito caro das pessoas que não foram educadas para fazer orçamentos domésticos, muito menos para segui-los. Com essa combinação, o Desenrola poderá se eternizar, em meio a juros extorsivos que, antigamente, configurariam agiotagem. Hoje, pelo visto, a agiotagem de fato não cria mais problema para ninguém, e o cenário não é nada cor-de-rosa.

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