Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mariliz Pereira Jorge

Agradeça aos seus ex-amores

Não sentiria o amor de hoje se não tivesse vivido tantas alegrias, tristezas, gozos e decepções

"Eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive…”, diz o trecho de Para Uma Menina Com Uma Flor, de Vinícius de Moraes. É tão óbvio, mas tão difícil de entender quando ainda não se viveu tantos amores que acumulem lembranças, alegrias, tristezas, gozos e decepções. Achava lindo e talvez lá no fundo soubesse que precisaria viver muitos amores para que lá na frente, sabe-se quando, aquele amor feito por todos que viria a ter seria aquele baita amor das músicas e das poesias. Mas quase sempre vivemos os amores como se fossem únicos e acreditamos que vamos morrer, se os amores morrerem também.

 
Mulher escreve nome do namorado num cadeado no Dia dos Namorados em Pequim, na China - Nicolas Asfouri/Associated France Press

E só agora de tantos amores, tantos dissabores, tantos encontros e desencontros, cada capítulo de cada amor parece se encaixar tão perfeitamente que pela primeira vez vejo um coração parrudo e bem nutrido com todas as histórias que foram minhas e que foram várias, até que viraram uma só e hoje me deram um coração preenchido por muita vida, por muita dor, por muitas dúvidas, mas também por muito amor. Um coração que tem aquele formato de desenho animado, tão vermelho e perfeitinho, que bate com vigor e também com as certezas que não existiriam se eu não tivesse vivido cada uma dessas experiências que tive até aqui.

Todo ex tem seu valor. Alguns mais, outros menos. Alguns deixam saldo negativo. Há aqueles que guardo com carinho num cantinho da alma que agora segue pulsando por outro amor. Amores que nos ensinam a lidar com a insistente vontade que nos bate de ser meio capacho do amor, que nos mata um pouco por dentro, que nos anula os sentimentos que não sejam apenas aquele que reverencia o nosso mais louco objeto do desejo. Aquele que nos tira o sono, a fome, a sanidade, que nos faz perder horas olhando o teto, o celular, o nada. Mas que nos é devolvido em doses também exageradas.

Obrigada meus ex-amores por todo amor, pelos dias, meses e anos que dividimos o amor, a cama, os sonhos, os copos de cerveja, as poltronas do cinema, do avião, os planos de futuro que ficaram no passado, um tanto de suas vidas que acabou sendo um pouco minha. Obrigada por me amarem, me ensinarem sobre generosidade, dádiva e devoção, paixão, desejo, sobre arrebatamento, afeto e amizade.

Obrigada meus ex-amores, por me mostrarem tudo sobre falta de lealdade, sobre traição, mentira, "filhadaputagem", sobre o mais profundo desamor, sobre falta de respeito, sobre dor e tristeza infinita, sobre desilusão, raiva e desprezo. Sobre arrependimentos, repulsa e ressentimentos. Por despertarem o pior em mim.

Obrigada a todos por partirem ou por terem me deixado partir. E em cada partida levar comigo mais um pouco da argamassa e dos alicerces que serviriam para um dia, quem sabe, talvez, ter o amor que eu queria, mas nem sabia como era, apenas que teria um pouco de cada uma das histórias que ficaram pelo caminho.

Obrigada, do fundo do meu coração, por me deixarem prontinha, redondinha, afinada, bem posicionada, com ginga e desenvoltura para dar de cara com o amor, e finalmente reconhecer o amor que era aquele amor “feito de todos os amores que já tive”, que era a soma e subtração de todas as pessoas que passaram pela minha vida, deixaram marcas, lembranças, lições e, na maioria das vezes, muito carinho.

Obrigada a vocês por finalmente amar e ser amada como nunca antes. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.