Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Copa do Mundo é cachaça

Dá licença, só quero gostar de novo do meu Brasil

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No primeiro gol do Brasil, na estreia na Copa, pulei do sofá, gritei os palavrões que fazem parte do repertório futebolístico, abracei os amigos, abri mais uma cerveja. Está tudo errado como sempre esteve. Essa é mais uma competição recheada de escândalos, a começar pela realização do evento pela Fifa e da seleção ser comandada pela CBF. Nem precisa ser ativista para repudiar tudo o que envolve essas entidades.

Um golzinho e eu já estava aqui com o pano prontinho para relativizar: precisamos valorizar o esporte. É verdade, mas o que eu gosto mesmo é da esbórnia. Antes que alguém diga "que hipocrisia", pode deixar que eu mesma faça isso: meu deus, dona Mariliz, que hipocrisia. A cada quatro anos, é só o juiz apitar e eu viro a mais farofeira da Copa do Mundo. Copa do Mundo é uma cachaça.

Richarlison celebra gol contra a Sérvia, na estreia na Copa - Xu Zijian - 24.nov.2022/Xinhua

Três anos e meio como colunista do caderno Esporte, da Folha, cobri todos os tipos de nojeira que envolvem os mandachuvas do mundo do futebol e os das confederações olímpicas. Conheço bem como a banda toca e, de novo, este ano pensei "não tem clima". Uma Copa com todos os ingredientes indigestos: violações de direitos humanos, intolerância, preconceito, censura e pra completar uma seleção cheia de bolsominions.

Tem uns dez anos que a política se mistura cada vez mais com o futebol. Para você pode ser mais tempo, antes disso talvez eu fosse saudavelmente alienada. De 2014 para cá, ameaço um boicote e falho miseravelmente. No Brasil, bastou o jogo de abertura, a Vila Madalena lotada de gente, e troquei o engajamento político pela tabela da Copa. Foi do mesmo jeito com a Rússia. No mesmo dia em que desembarquei em Moscou, bebi, dancei e fiz muitas fotos com tunisianos desconhecidos e felizes porque ganharam um mísero jogo na competição. Nunca vi povo mais feliz com tão pouco. Talvez seja o milagre do futebol.

Foi um ano desgraçado, na sequência de outros dois terríveis. Dá licença, só quero gostar de novo do meu Brasil. Futebol sempre nos uniu como povo e o processo de nos reencontrar como país passa por fazer as pazes com o verde e amarelo e com a seleção. A seleção é nossa, não é da CBF, da Nike ou do Neymar. Mas que seja com Neymar e tudo.

Daqui a pouco, voltamos à programação normal. Mais um gol do Richarlison e eu tô fazendo dancinha do pombo.

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