Cadê as feministas? Cadê as jornalistas? Onde estão todos quando uma mulher de direita sofre assédio? Esses questionamentos têm sido feitos nos últimos dias por parlamentares e apoiadores da extrema direita que acusam o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) de ter assediado sexualmente a colega Júlia Zanatta (PL-SC). A deputada diz que o parlamentar "deu um cheiro" em seu pescoço.
Jornalista? Presente. Feminista? Presente. Como tal, repudio cenas, relatos e histórias sobre qualquer mulher, independentemente de sua ideologia, do seu credo, de sua etnia, que tenha passado por um ou mais episódios de assédio sexual. Mas o que eu também repudio, talvez até mais, o que me embrulha o estômago até que eu sinta o gosto amargo da bile do ódio, é gente que tenta se aproveitar de uma causa séria, importante, necessária, em benefício próprio.
Júlia Zanatta não sofreu assédio. Não tenho dúvida de que ela saiba diferenciar uma abordagem grosseira de um ataque sexual. Ao menos é o que se espera de mulheres adultas bem informadas. Assédio é tratado com desdém por gente como ela, que se declara antifeminista e se apoiou também nesse discurso para se eleger. Basta uma simples busca no internet para ver notícias, vídeos, declarações em que a deputada destrata, distorce, mente sobre o movimento que ela pressiona agora para se defender.
Se o episódio servisse para que a deputada valorizasse o que o feminismo tem feito para proteger as mulheres, já seria um avanço, mas sabemos que ela apenas quer manipular a opinião pública a seu favor, contra as feministas. Curioso que até pouco tempo, questões de igualdade no ambiente político não eram problema para ela. Numa participação no programa Pânico, quando ainda era pré-candidata, Zanatta foi questionada se já tinha enfrentado machismo na vida pública, ao que ela responde que "não liga", que "vai tocando sua vida", ao mesmo tempo em que despeja um balde de bobagens sobre o feminismo —que, segundo ela, debocha de mulheres que decidem ser donas de casa, não gosta de feminilidade, é contra a fé, contra a vida, blábláblá.
A seu favor, acho que nenhum homem deve se sentir à vontade para se aproximar de uma mulher como fez o deputado do PCdoB, mesmo que ele tenha apenas chamado sua atenção pela forma como ela gritava com a deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
Zanatta poderia fazer uma reclamação ao Conselho de Ética da Câmara sobre a abordagem do colega. Mas não. Ela resolve armar um circo sobre assédio e se aproveitar de uma pauta cara ao movimento feminista, para se vitimizar. Inventa outra, deputada.
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