Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mariliz Pereira Jorge
Descrição de chapéu

A geração de 25 com cara de 50

Indústria da estética está doente e faz vítimas cada vez mais cedo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Dermatologistas, cirurgiões plásticos, esteticistas e todos os tipos de mercadores da beleza que mergulharam o país numa epidemia de desarmonização facial deveriam começar a ser processados. Tem a pressão estética da sociedade, há problemas de autoestima, de disforia de imagem, mas sobra picaretagem e maus profissionais.

Essa responsabilidade precisa ser dividida. No passado, as mulheres enchiam os cabeleireiros com suas revistas de moda a tiracolo, na esperança de copiar o cabelo da Gisele. Ou da Malu Mader. Aconteceu comigo: mirei na Malu e acertei no Chitãozinho. Mas cabelo cresce.

Falta limite, amor-próprio e sobra coragem a quem entra num consultório sem informação, mas com muita disposição de deformar o rosto. Não é possível que alguém apareça com a foto da boca da Angelina Jolie e o médico deixe a ética de lado e se deixe mover pelo pix para brincar de Picasso com suas seringas. As pessoas que trabalham em qualquer área que mexa com a vaidade humana deveriam ler o básico da psicanálise para lidar com a inquietação do inconsciente e não apenas com desvio de septo e rostos assimétricos. Devem entender que frustração não se trata com esse mal do século 21 chamado harmonização facial. Insatisfação com a vida não se preenche com ácido hialurônico.

Cada um faz o que quer com a própria aparência. Mas isso não nos impede de exigir que os profissionais sejam responsáveis pelo que fazem no rosto das pessoas. É uma indústria doente que faz vítimas cada vez mais cedo. O resultado é uma geração de 25 anos cada vez mais com cara de 50. Jovens mulheres começam usar Botox para prevenir rugas futuras, mudam o formato do rosto com litros de preenchedores para ficarem iguais a todas as outras. Falei do festival de sobrancelhas horrendas? Então. Aquilo merece processo.

Charge faz alusão ao processo de harmonização facial; na legenda: morador não identificado!
Charge faz alusão ao processo de harmonização facial; na legenda: morador não identificado! - Jean Galvão - 17.jun.23/Folhapress

Há dias, dei de cara com fotos de "antes e depois" da irmã de um jogador de futebol. Garota linda, com seus vinte e poucos anos, transformada numa versão que parece ter o dobro de sua idade, o rosto deformado pelo excesso de preenchimentos e sabe-se lá mais o que, uma caricatura de si mesma. Uma vítima de si mesma, mas principalmente do açougueiro que não tem habilidade, mas principalmente capacidade de dizer "não faço", "você não precisa". É isso que se espera de bons profissionais.

Sou contra procedimentos estéticos? Longe disso, mas me certifico de levar uma peixeira e ameaçar o médico até ter confiança. Menos é mais. Não quero ficar diferente. Não quero ficar esquisita. Não quero uma aparência que não seja minha.

E, principalmente, nunca quis parecer mais jovem. Os recursos estão aí, a medicina estética avança mais do que a corrida espacial, mas não beneficia as pessoas da mesma forma e nem todo mundo precisa se submeter a ela. É um cálculo que deve ser feito, com a orientação de um profissional que seja responsável, ético, comprometido com o bem-estar dos pacientes e não com a sua conta no banco.

Depois dos 35 anos, Botox e estimulação de colágeno, entraram na minha agenda de beleza para nunca mais sair. Até lá, eu mal usava máscara de cílios nos olhos. Banho de beleza era no chuveiro mesmo. A brasileira era festejada por ser uma mulher mais "natural", menos montada do que argentinas, italianas e americanas. Os costumes mudam, a maquiagem virou uma febre sem fronteiras com blogueiras e tutoriais. Mas o que se popularizou também foi a procura de procedimentos invasivos por gente muito jovem, que deveria usar apenas um bom protetor solar.

Esta semana, a humorista GKay falou sobre o arrependimento de ter se submetido a tantas intervenções médicas e como se sentia melhor ao ter desfeito os procedimentos – o que nem sempre é possível. Ela ficou muito mais bonita. Não é incrível? Ficou mais bonita sendo quem sempre foi. É importante que uma voz como a dela chame a atenção para este assunto, mas gostaria de saber o nome dos profissionais que descuidaram dela para passar muito longe.

Uma regra básica para quem procura um dermatologista, um cirurgião plástico: se ele nem perguntar o que te levou até lá e te indicar vários tratamentos, fuja. São os seus incômodos que precisam ser acolhidos e analisados. Se ele disse que você não precisa, acredite. Não é porque todos os BBBs fazem que você deveria fazer também. Você não é todo mundo. A sua cara é a sua personalidade, sua marca registrada, o que mantem a sua jovialidade em qualquer idade. Não se esconda em camadas de ácido hialurônico. Obrigada, de nada.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.