Na estreia do Brasil na Copa do Mundo, encontrei meu primo Guga na sala, muito compenetrado assistindo ao jogo que a seleção feminina venceu por 4 a 0. Aos 10 anos, ele é apaixonado por futebol, como muitos meninos de sua idade, torce para o Flamengo, acompanha o campeonato europeu, é fã de Messi. Mas tem em Marta outro ídolo e estava na expectativa de vê-la jogar e fazer gols.
Um contraste com a notícia de que a CazéTV, canal do streamer Casimiro Miguel, desativou o chat da transmissão da partida entre Nova Zelândia e Noruega pela avalanche de comentários misóginos. Talvez seja tarde para salvar os trogloditas que zombam de mulheres que abraçaram o esporte, mas as novas gerações estão aí para mostrar que o preconceito pode ser combatido e os estereótipos derrubados.
Crianças são expostas a diferenças de gênero desde que nascem. Ao longo do desenvolvimento passam a internalizar as informações que recebem, mas isso não significa que a compreensão básica das diferenças resultará num comportamento sexista. O que molda um futuro cidadão é como ele é encorajado a brincar, a agir, a se relacionar.
Mais do que a criança ouve é o que ela vê e como passa a entender o mundo. Vale para a divisão de tarefas domésticas, para os esportes que é incentivada a praticar, as cores que têm permissão para vestir. Por isso é tão danoso o discurso de que "meninas vestem rosa, meninos vestem azul", que reforça os estereótipos de gênero que produzem o preconceito que se vê neste Mundial.
Assim como meu primo, os filhos adolescentes de um amigo têm acordado de madrugada para acompanhar os jogos. Não passa pela cabeça deles a discussão machista sobre a presença feminina no futebol. É um não-assunto para as novas gerações. Meu primo só estava curioso sobre Marta usar batom nas partidas (segundo ele, "ela vai ficar toda borrada") e muito preocupado que o Brasil vai enfrentar a França no próximo sábado.
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