Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge
Descrição de chapéu Barbie machismo

Nem Barbie quer ser Barbie

Ela poderia ter continuado em seu universo colorido, mas entendeu que ser mulher de carne e osso ainda é muito melhor

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Para mim, acho bom deixar isso claro, para mim, Barbie é um filme fofíssimo, chato de tão fofo, perfeito para meninas de 11, 12 anos, que encaram o prenúncio do que será a vida adulta, levando um choque de realidade. O recado da personagem, interpretada pela atriz America Ferrera é para elas, para que não se cobrem tanto, para que entendam que não há perfeição a ser conquistada, que somos humanas, falhas e temos limites. Que precisamos respeitar nossa individualidade porque não saímos prontas de uma fábrica e nunca estaremos prontas para lidar com tudo o que a vida irá nos apresentar.

É verdade que é impossível ser mulher, como discursa Ferrera, se você não amadurece o suficiente para entender que sempre haverá cobranças, em todas as fases da vida, independentemente das escolhas que faça. Que a sua existência será melhor ou pior de acordo com a força de sua personalidade e de como lida com as pequenas e grandes chantagens que um mundo ainda muito machista sempre fará.

Cena do filme com Barbie e Ken em carro rosa
Cena do filme com Barbie e Ken em carro rosa - Warner Bros Pictures

É uma boa lição que as novas gerações precisam para estarem preparadas para todas essas demandas, porque elas sempre existirão. O mundo jamais será um lugar cor-de-rosa em que estaremos leves e felizes integralmente ou ao tempo todo. Haverá questionamentos, dúvidas, inseguranças. Sempre. Muitas vezes será cansativo, desafiador, amedrontador. É o que chamamos de vida, mas todos esses problemas podem ter o peso que damos a eles.

Sim, é possível ser mulher. Ser a mulher possível que cada uma de nós consegue ser. Uma conquista que nos levará a um feminismo 3.0, quando teremos mais domínio sobre como as cobranças e os julgamentos terão sobre nós. Um aprendizado que as adolescentes de hoje, as adultas de amanhã, devem começar a abraçar desde já.

Há muitas críticas sobre os homens serem ridicularizados no filme, mas, de novo, para mim, eles são apenas estereotipados assim como a protagonista. Malvados, assediadores, bobões, manipuladores. Muitos são assim na realidade e é um grande acerto mostrar isso de forma lúdica para um público juvenil que, imagino, já tenha discernimento para entender os exageros do humor. Meninas que, de fato, terão que lidar com todo tipo de homem, mas, torço que encontrem um mundo já em transformação nas relações de gênero.

Mattel está de parabéns pelo marketing sensacional. Conseguiu envernizar um passado recheado de histórias de transtorno de imagem, de bulimia e de anorexia, convencendo uma parte do público que sua boneca é uma baita feminista. Fez mulheres adultas, traumatizadas pelo estereótipo da mulher perfeita representada por uma boneca impossível, ajudarem as ações da empresa subirem e a possibilidade de lucro de R$ 1 bi, com o filme.

Moral da história: nem Barbie quer ser Barbie. Ela poderia ter continuado em seu universo colorido, longe do caos de um mundo desigual e imperfeito, mas entendeu que ser mulher de carne e osso ainda é muito melhor. Com todos os problemas, mas com todas as emoções, lidar com a realidade ainda é preferível porque a vida perfeita não existe. Faz parte se frustrar, chorar, como ela aprendeu, ter medos, inseguranças, dúvidas, confrontar a vida com todas as suas possibilidades, participar de suas transformações.

Barbie, o filme, é um ótimo manifesto para uma geração que chega à adolescência, uma época marcada por tantas mudanças, tantos ritos de passagem, um deles perfeitamente representado na última cena do filme, em que a boneca torna-se mulher e vai ao ginecologista.

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