Há cerca de um mês, uma jovem de 19 anos foi estuprada quando voltava para casa. O crime aconteceu na rua onde vivo, em Copacabana. Em frente ao quartel do Corpo de Bombeiros, um morador de rua a puxou para um canteiro de obras e cometeu o crime. Passo naquele lugar com regularidade. Passava.
Esta semana, ao virar a esquina e me dar conta de onde estava, corri para casa a tempo de vomitar.
Entra ano, sai ano, começa verão, termina verão, é sempre igual. Cenas, como a que correu o noticiário, de um homem espancado por uma gangue que havia cercado uma mulher. Era fim de tarde, uma das ruas mais movimentadas do bairro, gente passando a rodo. Diante da falta de segurança que impera, restou à única alma com coragem de colocar o próprio pescoço em risco interceder pela vítima antes de virar uma.
Horas antes, imagens de segurança mostram que um bando aterrorizava transeuntes a cerca de um quilômetro dali. Talvez nem fosse o mesmo, o que piora a situação. Não há semana que a praia mais famosa do país não esteja no noticiário. Idosa morre ao bater a cabeça no chão depois de ser assaltada. Fã de Taylor Swift é vítima de latrocínio na areia.
Os moradores do bairro estão em pânico. Ouço as mesmas palavras da costureira, da manicure, do padeiro: cuidado. O critério da escolha do lugar na praia é se tem arrastão ou não. Quando me mudei há um ano para cá, fui aconselhada a evitar algumas ruas pelo mesmo motivo. Ao que parece todo mundo sabe onde o bicho pega, menos a polícia.
Uma amiga que mora em Portugal, saudosa do Rio, quis saber como estavam as coisas. Não menti sobre o fato de os problemas serem os de sempre, mas me peguei relevando a gravidade, exaltando o que a cidade tem de bom, apaixonada por Copacabana, minha Nova York tropical. Eu sei, bem louca.
Completamente inebriada pela beleza, anestesiada pelos absurdos do caos. Já posso ganhar a carteirinha de carioca.
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