Não, não tenho assistido ao BBB, mas estou tentada. Ainda mais no começo quando os filtros não foram ativados, os discursos não estão moderados. O resultado, pelo que li nas redes, é puro suco de Brasil. Arrisco o palpite de que se acompanhássemos o programa de perto não teríamos levado um susto chamado Jair Bolsonaro.
Talvez nem o IBGE seja capaz de escancarar tantas questões. Fica óbvio que o país é muito mais BBB do que revista TPM. Chega a ser comovente o espanto dos espectadores ao dar de cara em horário nobre com machismo, racismo, homofobia, etarismo. Nem a HBO tem enredo melhor. É um cliffhanger (suspense) atrás do outro. Quem é o próximo a desafiar (sem saber) as regras do comportamento aceitável em 2024?
Tem a novinha que normaliza traição masculina por considerá-la um "vício". O tiozão do pagode para quem a modelo de 35 anos está velha. Homem que trata mulher como picanha. Gíria homofóbica, camaradagem racista, bullying, capacitismo, objetificação, macho com autoestima elevada. É o Brasil que não leu o manual "as palavras machucam", é o Brasil que só passa pela Vila Madalena dirigindo Uber, que não faz a menor ideia do que é discutido nas universidades, nas propagandas de Dove, que nunca ouviu falar em letramento racial.
Longe de mim diminuir a importância de todas as lutas de minorias, pelo contrário, sou uma das que levanta as bandeiras por mais igualdade. Mas o que o BBB nos mostra é que os debates e os efeitos esperados são elitistas, ainda estão confinados dentro dos muros da academia, nas páginas de jornal, no Twitter, nos botecos de Botafogo.
Pela tela da TV percebemos um país chucro e, consequentemente, violento, o que se traduz nas estatísticas. A desigualdade econômica é o alicerce fundamental para que a de gênero, de etnia, de sexualidade e a geracional se mantenham tão firmes na sociedade. É só assistir ao BBB para entender por que surgem Bolsonaros.
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