Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Futebol Internacional

Richarlison não fez nada de mais

Se ele fosse um jogador inglês, críticas não seriam tão exageradas

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Menos, pessoal. Bem menos. Foi desproporcional a reação do mundo do futebol inglês contra Richarlison pelo lance do último domingo (28) na Premier League. Explico para quem não viu. O Tottenham vencia o Nottingham Forest por 2 a 0 –depois de uma assistência primorosa do brasileiro para Harry Kane, inclusive. Perto do fim do jogo, Richarlison recebeu um passe e, antes de tocar, fez três embaixadinhas. O jogador adversário, Brennan Johnson, revidou. Deu uma trombada nele, fez uma falta dura e tomou cartão amarelo.

Depois da partida, o técnico do Tottenham, o italiano Antonio Conte, defendeu o atacante. Mas, em geral, Richarlison foi massacrado. Jamie Carragher, ex-jogador do Liverpool e hoje comentarista do principal canal esportivo da Inglaterra, chamou o comportamento de "idiota" e disse que o brasileiro é "irritante." "Triste", "barato", "sem classe", "desrespeito" e "inaceitável" foram alguns termos usados para o lance que aqui chamam de "showboating", algo como exibicionismo.

Richarlison fez embaixadinhas e irritou ingleses - David Klein - 28.ago.22/Reuters

Richarlison não se manifestou. A atitude poderia ter sido evitada? Sim. Mas Richarlison é mau-caráter? De jeito nenhum. Com todo o respeito ao adversário, por ser um lance tão incomum e inesperado para um campeonato como a Premier League, foi até divertido de assistir. Deixem Richarlison em paz. Se fosse um jogador inglês, principalmente queridinhos como Phil Foden ou Jack Grealish, a reação da imprensa e do público teria sido bem diferente.

Viagem de férias ou álbum da Copa?

O álbum de figurinhas da Copa do Mundo do Qatar começou a ser vendido aqui no Reino Unido, e, assim como no Brasil, o preço gerou polêmica. Adivinha até quanto pode custar completar o álbum na terra da Rainha? Em média, impressionantes 870 libras, o equivalente a R$ 5.300. O cálculo é de Paul Harper, matemático da Universidade de Cardiff.

O álbum tem 670 figurinhas (e inclusive Richarlison), mas, por causa das repetidas, se alguém quer comprar todas, Harper estima que a probabilidade é a de que vai ser preciso adquirir 4.832 delas. O pacote com cinco figurinhas sai a 90 centavos, ou 18 centavos cada, daí o total de quase 900 libras.

A inflação impactou o preço, e o pacote por aqui custa 12,5% a mais em relação ao da Copa do Mundo da Rússia de 2018. Como a cada pacote que se compra a probabilidade de encontrar novas figurinhas vai ficando bem menor, Harper prevê que para achar as últimas 19 seria preciso adquirir 483 pacotes, 50% do total. Ou seja, quando parece que está quase acabando, só chegou à metade.

Se transportarmos a mesma fórmula para o Brasil, com um pacote com cinco figurinhas custando R$ 4, ou 80 centavos cada uma, o valor total para completar o álbum seria de R$ 3.865. Claro que tentar comprar todas as figurinhas parece uma situação irreal. Todo o mundo acaba trocando com amigos ou conhecidos, o que diminui bastante o gasto. Mas também não dá só para considerar o valor mínimo de pouco mais de R$ 500, já que ninguém é tão sortudo a ponto de nunca tirar uma figurinha repetida.

E, em tempos de custo de vida alto, gastar tanto dinheiro com algo, digamos, supérfluo, assusta as pessoas por aqui, por mais divertido que seja. Com 870 libras dá para pagar as compras de supermercado de uma família por uns dois meses, ou fazer uma viagem de lazer. Sem dúvidas, muita gente prefere gastar com comida ou com as férias.

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