Assim que a convocação da seleção brasileira para a Copa do Mundo saiu, um amigo jornalista galês me mandou uma mensagem: "Nada mau, hein! Bom ver Gabriel Jesus, uma pena pelo Roberto Firmino. Eles irão bem, contanto que não tenham que jogar contra o País de Gales!".
A brincadeira foi, na verdade, pelo respeito que os galeses têm pela nossa seleção. Em 1958, quando esse meu amigo nem sonhava em nascer, o País de Gales disputou uma Copa do Mundo pela única e última vez. Foram eliminados nas quartas de final pelo Brasil, com um gol de um jovem de 17 anos chamado Pelé.
Na Suécia, a seleção brasileira conquistou seu primeiro título mundial, e o País de Gales teve que esperar 64 anos para sequer se classificar de novo. Em 2022, eles irão! Os galeses amam Gareth Bale, mas tenho certeza de que também adorariam ter Gabriel Jesus e companhia no time deles, se pudessem.
Já na Inglaterra, o clima de Copa do Mundo aumenta aos poucos. Pubs estão colocando avisos na porta de que vão transmitir os jogos. Desde a convocação da seleção inglesa, na quinta-feira (10), canais esportivos debatem até onde a equipe de Gareth Southgate pode chegar.
Ingleses são engraçados quando falam sobre a própria seleção: há uma mistura do tradicional pessimismo –só venceram uma Copa do Mundo, em casa, em 1966– com um pouco de esperança, já que foram semifinalistas na Rússia em 2018 e chegaram à decisão da Eurocopa no ano passado.
Inglaterra e País de Gales se enfrentam na fase de grupos, e esse vai ser um baita jogo para ver por aqui (o que não vai ser legal é ouvir a música "It’s Coming Home" de cinco em cinco minutos e levar banho de cerveja a cada gol).
Pubs certamente estarão lotados também nos jogos do Brasil. Os britânicos se acostumaram a ver jogadores brasileiros nos gramados da Premier League. Dos 26 convocados, 12 atuam no Campeonato Inglês: Alisson e Fabinho no Liverpool, Ederson no Manchester City, Thiago Silva no Chelsea, Casemiro, Fred e Antony no United, Lucas Paquetá no West Ham, Bruno Guimarães no Newcastle, Gabriel Jesus e Martinelli no Arsenal, Richarlison no Tottenham.
Todos merecem estar na lista, mas destaco particularmente o Richarlison. Acompanho a carreira dele desde que eu cobria jogos do Fluminense, no Rio. Quando Richarlison se mudou para Watford, eu já morava na Inglaterra e fiz uma reportagem mostrando que ele estava aprendendo a dirigir (na mão inglesa!) porque queria ser independente para ir aos treinos. Contou-me que passou a conhecer Elton John –presidente honorário do Watford– e saber mais sobre os Beatles quando foi morar em Liverpool para jogar no Everton.
Sempre foi alegre, humilde. É focado, mas de forma nenhuma alienado. Costuma se posicionar em causas importantes, que não têm relação com o futebol, mas importam para as pessoas. Pediu oxigênio para Manaus durante a pandemia. Teve a sensibilidade de prestar condolências aos britânicos no dia da morte da rainha Elizabeth 2ª.
Sempre demonstrou amor em defender a seleção brasileira. Torci por ele quando o vi chorando porque estava com medo de que uma lesão recente o tirasse da Copa, e fiquei feliz ao saber que não era grave e ao vê-lo convocado.
Richarlison, sem dúvidas e apesar de tudo o que passamos nos últimos meses, é um dos que vão me fazer torcer pelo Brasil nesta Copa.
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