Roger Federer está se aposentando. Ler esta frase dá uma dor no coração, mesmo sabendo que o anúncio não era surpresa. Federer havia jogado profissionalmente pela última vez em Wimbledon, em 2021, e há tempos o suíço de 41 anos sofre com problemas no joelho. Nesta semana, explicou que os últimos anos foram difíceis, e ele percebeu que não conseguiria mais competir no nível que deseja. Ao dizer que ama o tênis e nunca vai deixá-lo, pelo menos nos deixou saber que continuará envolvido com o esporte de alguma forma.
A despedida é cheia de simbolismo. Federer encerra a carreira profissional na Laver Cup, torneio em homenagem a seu ídolo Rod Laver. E, como o formato é "Time Europa" contra "Time Mundo", joga na mesma equipe de seus grandes rivais Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray.
Mesmo antes de pisar em quadra, ele reacendeu o debate sobre quem é o "Goat" – "Greatest of All Time", ou maior de todos os tempos, no tênis. Muitos dirão que é Federer, e ponto. Mas existe uma resposta? Parece que depende do ponto de vista.
Para uns, ser o maior significa vencer mais. Para outros, é ser mais dominante, carismático, popular. Analisando apenas os números, Federer tem 103 títulos na carreira, mais que os 92 de Nadal e os 88 de Djokovic. Mas tanto o espanhol, com 22 títulos de Grand Slam, quanto o sérvio, com 21, superaram os 20 do suíço em disputas de simples. Se incluímos homens e mulheres, Margaret Court, com 24, e Serena Williams, 23, também ganharam mais.
Como o tênis não é feito apenas de dados, vamos a outro critério. Ser o maior pode ser medido pelo tamanho da popularidade? Federer tem elegância, classe e carisma difíceis de superar. É praticamente unanimidade entre torcedores e tenistas, respeitado, bom exemplo dentro de quadra (teve a fase rebelde, mas faz muito tempo) e fora dela, com o importante trabalho de caridade feito por meio de sua fundação, por exemplo. Nesse quesito, existe alguém mais querido do que ele?
Vamos então para a questão da relevância no esporte, e esta é difícil porque está sujeita a interpretações. Cito apenas o nome de Serena, que transformou a maneira de o tênis feminino ser jogado e derrubou tantas barreiras. Nesse ponto, quem seria, na sua opinião, vencedor ou vencedora?
Além disso, é sequer justo definir quem foi o maior, se comparamos tenistas de épocas distintas? Antigamente, era muito mais difícil viajar para competir e conseguir patrocínio, o calendário era diferente, não havia tanta tecnologia no esporte e investimento em nutrição como hoje em dia. Se Maria Esther Bueno, que reinou nos anos 1950 e 1960, jogasse atualmente, será que teria ganhado mais do que seus 19 títulos de Grand Slam?
Talvez a coluna tenha confundido a cabeça do leitor em vez de apontar soluções, mas confesso que eu mesma não tenho a resposta. Às vezes, é simplesmente o atleta de quem gostamos mais, e tudo bem. Ou, de repente, eleger o maior ou a maior venha apenas da nossa necessidade inconsciente de achar respostas para tudo, criar rótulos, definir padrões, ou acreditar que quem jogou na nossa época foi o melhor. Vale lembrar, este debate pode mudar radicalmente no futuro. Afinal, Carlos Alcaraz, Iga Swiatek, Ons Jabeur e cia vêm aí. Por enquanto, prefiro pensar o quanto é divertido conversar sobre o assunto com os amigos. E que sorte a nossa poder assistir a esses gênios.
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