Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Repaginada, Superliga europeia tenta ressurgir

Premier League e clubes ingleses esnobam o novo plano; e há explicações para o silêncio

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Vi um jornalista britânico descrever a Superliga como "aquele cheiro ruim do qual você não consegue se livrar". O comentário foi depois da nova proposta apresentada para a criação desta liga independente de clubes europeus. Mas a ideia repaginada tem pelo menos um grande problema.

Lançada em abril de 2021, a primeira versão da Superliga foi tão polêmica que não durou nem 48 horas. O plano era ter membros fixos –Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Tottenham, Milan, Inter de Milão, Juventus, Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid– e 20 equipes no total. Um clubinho exclusivo dos mais ricos com uma competição paralela para concorrer com a Liga dos Campeões. Torcedores protestaram, treinadores, comentaristas e jogadores reprovaram, Uefa e Fifa ameaçaram banir clubes e atletas, e até o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson se meteu, prometendo uma lei para impedir a adesão dos ingleses. A ideia ficou adormecida, mas não abandonada, principalmente por Barcelona, Real Madrid e Juventus.

Na nova tentativa, o diretor da A22 Sports Management –responsável pelo projeto– disse nesta semana que conversou com quase 50 clubes europeus, sem citar quais, e montou a base do que seria a nova Superliga. Mais inclusiva e tentando corrigir controvérsias, propõe a participação de até 80 clubes baseada em mérito esportivo, ou seja, ninguém estaria garantido; todos disputando campeonatos nacionais; mais de uma divisão; cada integrante jogando ao menos 14 partidas por temporada, para ter estabilidade e receita.

Desta vez as reações foram menores, menos raivosas e mais criativas. Javier Tebas, presidente da La Liga, disse que a Superliga é o lobo mau disfarçado de vovozinha da história da Chapeuzinho Vermelho. A Associação de Torcedores de Inglaterra e País de Gales a chamou de liga zumbi. Um repórter do principal canal esportivo inglês classificou o anúncio como "manobra de relações públicas" por "ciúmes do sucesso da Premier League". A organização que representa 40 ligas com mais de 1.000 clubes europeus disse que não foi consultada.

Post no Twitter de Javier Tebas, presidente de La Liga, o Campeonato Espanhol da Primeira Divisão
Post no Twitter de Javier Tebas, presidente de La Liga, o Campeonato Espanhol da Primeira Divisão - Reprodução


E aí tem o tal problema. Clubes da Premier League esnobaram a nova proposta e não se manifestaram publicamente. Ao que parece, não seria interessante financeira e estrategicamente. E, mesmo que quisessem, nem poderiam entrar. Pelo código de conduta da liga, se comprometeram a não "colaborar para a criação de novos formatos de competição fora das regras da Premier League". Um recado à Superliga que pode ser reforçado pelo governo britânico em uma proposta de lei para regular o futebol a ser divulgada neste mês. Além disso, em 2021, vozes importantes do futebol inglês, como o técnico do Liverpool, Jürgen Klopp, fizeram coro contra uma liga paralela e apoiaram a Champions.

O diretor da A22 incluiu uma frase cirúrgica em seu comunicado: garantir a participação, no mínimo, dos 27 países da União Europeia –da qual o Reino Unido não faz parte desde que o Brexit entrou em vigor.

A sobrevivência também depende da decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia, nos próximos meses, em relação à autoridade da Uefa para punir clubes que participem da Superliga –em dezembro passado, o advogado-geral do tribunal se mostrou favorável à Uefa e Fifa. Mas, sem os clubes do principal campeonato do mundo, a Superliga até pode sair do papel. Se tem chances de sucesso é outra história.

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