Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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O ano dos sonhos para o esporte na França

Período vai da Copa do Mundo de Rúgbi aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris

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Organizar um grande evento esportivo com o mínimo de problemas possível é uma missão hercúlea até para quem está acostumado a receber o mundo no quintal de casa todos os dias. A França topou o desafio. O período dourado do país, que começou há uma semana, com a Copa do Mundo de Rúgbi, realizada em dez cidades francesas durante 51 dias –três semanas a mais do que a Copa do Mundo de futebol do Catar—, vai até setembro de 2024, com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris. Foi chamado em uma manchete nada humilde do jornal francês Le Parisien de "o ano esportivo do século."

Os franceses sabiam, no entanto, que os olhares críticos seriam ainda mais intensos depois do vexame na final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Liverpool em maio do ano passado, no Stade de France. Milhares de torcedores do Liverpool com ingressos legítimos foram impedidos de entrar no estádio, o que causou tumulto e confusão. A polícia ainda reagiu jogando gás lacrimogêneo e por pouco não houve uma tragédia. Investigações independentes apontaram que a culpa foi da má organização e de falhas nos protocolos de segurança. Autoridades disseram que haviam aprendido uma lição e que os problemas não iriam se repetir nos próximos eventos esportivos.

Torcedores do Liverpool tentam entrar para a partida contra o Real Madrid, em Saint Denis - Thomas Coex - 28.mai.22/AFP

Mas tiveram, de novo, que pedir desculpas nos últimos dias, e não apenas por problemas de acesso de torcedores. Desta vez, foram os organizadores do mundial de rúgbi. Em Marselha, uma multidão ainda esperava para entrar no estádio minutos antes do início de Inglaterra x Argentina. Em Bordeaux, a falta de transporte público atrasou a chegada do público que foi assistir ao confronto Irlanda x Romênia. Durante a partida, faltou água e cerveja, já que a demanda foi acima do esperado por causa do calor, com temperaturas que passaram dos 35 graus.

Joe McCarthy, da Irlanda, na partida contra a Romênia pelo Mundial de Rúgbi, em Bordeaux - Christophe Archambault - 9.set.23/AFP

O mundial é um fracasso até agora? De jeito nenhum, pelo contrário. Em um megaevento, uma falha ou outra vai acontecer. Uma média de 15,4 milhões de pessoas, com pico de 17 milhões, assistiram à partida de abertura pela televisão, com vitória da seleção da casa sobre a Nova Zelândia. E mais de 2,5 milhões de ingressos foram vendidos, praticamente a capacidade total do torneio.

Assim que a competição acabar, dia 28 de outubro, começa então de fato a contagem regressiva para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris, que vão de 26 de julho a 8 de setembro. Guardadas as (muitas) devidas proporções, lembro-me de quando o Brasil recebeu a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. O país fica na moda e existe uma empolgação diferente no ar.

Serginho comemora a medalha de ouro na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, - Antonio Milena 21.ago.16/Veja/NoppFolhapress

Paris não precisa organizar eventos esportivos para atrair turistas, mas aproveita a chance também para revitalizar a cidade. Com uma proposta de Jogos mais enxutos, 70% das instalações esportivas olímpicas e paralímpicas já existem, 25% serão temporárias e só uma será construída do zero —o centro aquático, que ficará de legado.

Estive na capital francesa no início deste ano, quando fiz uma reportagem para a Folha marcando os 500 dias para os Jogos e as únicas obras que vi foram os tapumes na fachada de prédios públicos, que estão sendo reformados. Haverá grandes testes para os organizadores, sem dúvidas, como o de segurança na cerimônia de abertura, que será ao longo do rio Sena e pela primeira vez fora de um estádio. Mas, no fim das contas, é o país usando eventos esportivos a seu favor, como deve ser.

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