Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro

Russos e belarussos têm caminho aberto para Jogos de Paris-24

Com histórico de trapaças no esporte e a guerra na Ucrânia, isso é justo?

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"Eu acho que todo mundo sabe que sou de Belarus", disse Aryna Sabalenka ao ser questionada por um repórter sobre a sensação de vencer o Aberto da Austrália como uma atleta "neutra".

A resposta da tenista é óbvia, e é assim que russos e belarussos devem conseguir uma brecha para disputar os Jogos Olímpicos de Paris em 2024: sob uma punição que, na prática, não vale de nada.

A belarussa Aryna Sabalenka com o troféu após vencer o Aberto da Austrália, em Melbourne - Martin Keep - 29.jan.23/AFP

Já faz quase sete anos que russos não participam normalmente de Olimpíadas, por culpa inteiramente deles. Entre 2011 e 2015, período durante o qual sediaram os Jogos de Inverno de Sochi, protagonizaram um dos maiores escândalos de doping de todos os tempos. Foram suspensos pela Agência Mundial Antidoping, mas o Comitê Olímpico Internacional permitiu que atletas comprovadamente limpos pudessem disputar os Jogos de verão de Tóquio e de inverno de Pequim, por exemplo, sem bandeira nem hino e sob o nome de Comitê Olímpico da Rússia (sigla ROC, em inglês).

A cada ouro russo, uma música de Tchaikovsky tocava no pódio. Cena, digamos, um tanto quanto estranha.

A punição terminaria no fim do ano passado… até que a Rússia invadiu a Ucrânia. Russos e belarussos (aliados na guerra) sofreram novas sanções. No caso de esportes como o tênis, por exemplo, podem competir no circuito profissional da ATP e WTA sem seus símbolos nacionais. A exceção foi o torneio de Wimbledon, que no ano passado proibiu a participação de atletas dos dois países. Mas, assim como no caso de Sabalenka com Belarus, alguém não sabe que Daniil Medvedev e Andrey Rublev são russos? Existe alguma dúvida de que foi a Rússia que ganhou 71 medalhas em Tóquio?

É isso que revolta —e é compreensível— quem defende o banimento total em competições esportivas. Dias atrás, o COI publicou um comunicado mantendo a punição a autoridades e governos de Rússia e Belarus, mas abrindo caminho para que disputem os Jogos de Paris ao dizer que "nenhum atleta deve ser proibido de competir por causa de seu passaporte".

Já o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu a Emmanuel Macron que os dois países não participem, algo que o presidente francês não deve acatar.

Neste momento, integrantes de Comitês Olímpicos europeus estão decidindo de que lado vão ficar. Os Estados Unidos, de forma surpreendente, apoiam a volta dos russos como atletas neutros.

Ucranianos ameaçam boicotar as Olimpíadas se nada mudar e o COI é acusado de passar a mão na cabeça de um país que durante anos trapaceou no esporte e violou ideais do movimento olímpico. Quantos atletas perderam o momento mais importante de suas vidas –o pódio olímpico– por causa de um russo dopado?

Com o país em guerra e sendo bombardeado, será que atletas ucranianos estão conseguindo treinar? O tempo está passando, a guerra não acaba e a corrida para 2024 começa.

Parque destruído em Kiev após ataque russo - Roman Petushkov - 10.out.22/Xinhua

Enquanto isso, o COI agradeceu uma oferta do Conselho Olímpico da Ásia para que russos e belarussos disputem no Oriente os torneios classificatórios para Paris-24, mas não decidiu se vai aprová-la.

Por outro lado, é justo debater se atletas têm que pagar o preço de uma guerra que não apoiam, em países onde nem vivem mais. Sabalenka foi comemorar o título do Aberto da Austrália em Belarus? Que nada. "Vou voltar para Miami, eu moro lá", respondeu com um sorriso no canto da boca à pergunta de outro repórter, ao lado do enorme troféu que acabara de conquistar.

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