Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Rússia

Os Jogos Olímpicos precisam dos atletas russos?

Pela quarta vez seguida, eles atuarão como neutros, criando dor de cabeça no mundo do esporte

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Esta semana, o principal instituto de pesquisa do Reino Unido fez a seguinte pergunta a 2.317 britânicos: "Depois da invasão à Ucrânia em 2022, atletas russos e belarussos foram proibidos de disputar eventos esportivos representando seus países. O Comitê Olímpico Internacional decidiu que atletas destas nações poderão ir a Paris 2024 como neutros, sem bandeiras, emblemas ou hinos. Qual destas opções está mais próxima de como você pensa que deveriam competir, se é que deveriam?".

Do total, 14% acharam que poderiam competir normalmente, 34% apenas como neutros, 33% de jeito nenhum e 19% não souberam responder. Não houve muita variação de opinião em relação a gênero, classe social ou orientação política dos entrevistados. Os acima de 65 anos foram mais favoráveis à proibição total do que jovens entre 18 e 24 anos (47% contra 11%). O Reino Unido sempre condenou a guerra e a Rússia e apoiou a Ucrânia.

Achei curioso ver essa pesquisa dias depois de o COI anunciar as condições de russos e belarussos para Paris 2024 porque não espero que nenhum britânico –nem que a maioria do planeta– seja especialista em Jogos Olímpicos. Vejo mais como uma amostra de que esse assunto há tempos saiu da esfera esportiva. Mesmo entre quem entende, há divisão de opiniões.

De um lado, há quem diga que competidor neutro de fato não existe (concordo, já que todo mundo sabe que o atleta é da Rússia mesmo que não esteja escrito no uniforme ou que não toque o hino no pódio) e que feitos olímpicos serão usados como propaganda por Vladimir Putin. E há quem defenda que é injusto banir todos os atletas pelos feitos de seus governantes.

A própria Rússia não facilita sua defesa. Foi punida nos últimos quatro Jogos Olímpicos por causa de um esquema sistemático de doping, por federações internacionais, COI ou Agência Mundial Antidoping. A suspensão acabou em 2022, mas sanções voltaram depois que a guerra começou e se estenderam à aliada Belarus.

Para disputar Paris 2024, o atleta também não pode ter apoiado a guerra, ser parte das Forças Armadas, e pode apenas competir em esportes individuais. Não teremos, por exemplo, a Rússia no vôlei –pelo menos três atletas da equipe russa que venceu o Brasil na final olímpica de Londres 2012 no masculino já foram suspensos por doping de amostras de 2013.

Brasil ao perder para a Rússia em Londres, em 2012 - Lalo de Almeida/ Folhapress

As federações internacionais decidem qual país pode competir em seu esporte. No atletismo, o presidente Sebastian Coe já disse que russos e belarussos não entram. Outros, como o judô, abriram as portas. Por enquanto, dos quase 5.000 classificados para Paris –cerca de metade do total– oito são da Rússia e três de Belarus.

A dificílima decisão do COI mostra o quanto é complexo navegar por questões geopolíticas que esbarram no esporte. Nos bastidores, há federações, autoridades, governantes pressionando e ameaçando boicotes.

Discursos são acalorados dos dois lados. Li um articulista afirmar que deixar a Rússia disputar mais uma Olimpíada "seria o maior desastre de sportswashing do século". Os russos aproveitam cada oportunidade para desafiar. Esta semana, Putin disse que, diante das condições impostas pelo COI, vai ter que analisar se seus atletas devem ou não ir a Paris.

Se por acaso resolvessem desistir e sair pela porta de trás por conta própria, uma coisa é certa: muita gente dentro do movimento olímpico respiraria aliviada.

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