Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu seis Olimpíadas, Copa e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Antes foi o zika vírus no Rio, agora são os percevejos de Paris

Capital francesa está com uma infestação, mas o que os Jogos Olímpicos têm a ver com isso?

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"Pânico com percevejos varre Paris e infestação dispara antes dos Jogos Olímpicos de 2024." "O que Paris está fazendo para resolver a crise de percevejos antes dos Jogos?"

Manchetes como essas, de dois grandes sites de notícias estrangeiros, foram comuns nos últimos dias (assim como fotos e vídeos nojentos que andam circulando). O subprefeito admitiu o problema, chamou a reação exagerada de "histeria" e precisou fazer um anúncio óbvio de que os Jogos não estão sob risco. "Percevejos existiam antes e vão existir depois dos Jogos," disse Emmanuel Gregoire. Especialistas em saúde entraram em ação, explicando que isso tem afetado quase o mundo todo porque viajantes levam os bichos em roupas e malas, com maior intensidade durante o verão europeu.

Amigas que moram em Paris me contaram que estão se preocupando mais, colocam roupas para lavar assim que chegam da rua, prestam atenção no metrô. Mas o que os Jogos Olímpicos têm a ver com isso? Nada. Mas é sempre assim. Meses antes de qualquer edição olímpica, chega aquela fase em que o foco é a cidade-sede. O alvo agora são os anfitriões de 2024.

Insetos em sofá nos arredores de Paris; infestação causa preocupação - Stephanie Lecocq - 29.set.23/Reuters

Há críticas realmente importantes. No caso do Rio de Janeiro, antes das Olimpíadas de 2016 era fundamental discutir a poluição da Baía de Guanabara –afetava a vida dos moradores e era a sede das competições de vela. Ou segurança pública, já que a cidade receberia milhares de visitantes. Falar sobre os problemas dos anfitriões pode ser bom porque, graças ao evento, investimentos que há anos deveriam ser feitos saem do papel.

O que me tira do sério é quando atrelam uma crise aos Jogos sem a preocupação de como isso mancha a imagem olímpica ou da cidade-sede. Aconteceu no Rio com o zika. Ter famílias afetadas pelo vírus que causa microcefalia em recém-nascidos é questão séria de saúde pública e deveria mobilizar a atenção das autoridades. Mas ele foi usado como justificativa por golfistas que disseram que não iriam ao Rio por medo de contaminação. O golfe estava de volta ao programa olímpico, e é um esporte em que competidores estão acostumados a torneios com grandes premiações.

Culpar o zika pareceu conveniente (não fui só eu quem achou; na época, o pentacampeão olímpico de remo, o britânico Steve Redgrave, disse que golfistas estavam usando o vírus como desculpa). O estrago estava feito. Meses antes dos Jogos do Rio, fui a Londres e assisti um apresentador de televisão que certamente nunca tinha feito uma cobertura esportiva na vida, dizendo que eles deveriam ser cancelados. Até a Organização Mundial da Saúde defendeu a manutenção do evento. Escrevo esta coluna da China, durante a cobertura dos Jogos Asiáticos. Esta semana, um jornalista estrangeiro, sabendo que era brasileira, mencionou o caso do zika. Contei para ele a história do golfe.

Nunca foi comprovado, mas suspeito que eu já tenha tomado mordida de percevejo. Foi em Cingapura, quando estive nos primeiros Jogos Olímpicos da Juventude de 2010. O médico primeiro disse que a causa das minhas manchas vermelhas na barriga era o calor –expliquei que era do Rio e nunca havia tido isso. Ele então disse que poderiam ser os tais "bed bugs," e sugeriu que eu trocasse de hotel.

Antes de Paris 2024, que tenhamos mais notícias com foco em assuntos que importam para os Jogos e para quem mora no país-sede. Sem botar até os percevejos na conta das Olimpíadas.

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