Martin Wolf

Comentarista-chefe de economia no Financial Times, doutor em economia pela London School of Economics.

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Martin Wolf
Descrição de chapéu Financial Times

Por que não posso votar no Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn

Seu programa extremamente expansionista deverá provocar fuga de capitais e colapso da moeda

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Aos 16 anos, entrei para os jovens socialistas, o ramo jovem do Partido Trabalhista. Eu era um defensor do líder, Hugh Gaitskell, que se opunha ao compromisso do partido com a nacionalização, na "Cláusula 4".

Então encontrei a extrema esquerda ou, como os chamávamos, os "trots", por causa de Leon Trotsky, um arquiteto da revolução soviética que foi assassinado por Joseph Stalin. Eu não gostei deles então. E não gosto deles agora. Duvido do seu compromisso com a liberdade e a democracia.

Com a liderança de Jeremy Corbyn, a extrema esquerda tomou conta do Partido Trabalhista. Foi uma mudança de enorme importância, e provavelmente duradoura. Os trabalhistas continuam sendo o principal partido de oposição no Reino Unido. Em algum momento, é provável que ganhe poder. Eu gostaria que pudesse desejar isso. Mas não.

Os conservadores fizeram um governo terrível, desde a austeridade fiscal pós-crise, nas costas dos vulneráveis, até a idiotice do Brexit. O desempenho da economia tem sido terrível, principalmente em produtividade. O país precisa de uma oposição trabalhista plausível.

Mas desconfio profundamente das pessoas que a administram. São verdadeiros socialistas, e, como a maioria dos socialistas, instintivamente autoritários. É significativo que Corbyn tenha admirado Hugo Chávez da Venezuela.

Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, discursa em ato de campanha em Whitby, no norte da Inglaterra - Paul Ellis/AFP

O julgamento das pessoas é mais importante que o de seu programa. Mas, como argumenta uma carta de 163 economistas ao "Financial Times", devemos considerar isso também. O que vemos? Ambição revolucionária: enormes aumentos dos gastos públicos e reestruturação radical da economia, com uma rede de novos bancos de investimentos, nacionalizações, transferências forçadas de ações para trabalhadores, um papel maior dos sindicatos e uma tributação muito maior do capital.

Os planos de gastos elevariam a proporção de gastos públicos em relação ao Produto Interno Bruto dos atuais 40% para 46%. Isso a situaria acima das da Alemanha e da Holanda. Mas a velocidade com que aconteceria torna inconcebível que o dinheiro fosse bem gasto.

Uma grande pergunta é se os planejados aumentos de impostos ocorreriam. O jornalista de esquerda Paul Mason afirma que o governo trabalhista poderia obrigar os capitalistas a pagar. Isso é "socialismo em um país" levado ao limite. É muito mais provável que a tentativa fracasse, criando enormes deficits fiscais.

Sabemos que parte do dinheiro seria mal gasta. Um exemplo destacado é a eliminação das mensalidades nas universidades, o que, nas palavras de Paul Johnson, do Instituto de Estudos Fiscais, "seria um presente caro para os estudantes de maior renda". Outras promessas caras são a decisão de congelar a idade de aposentadoria aos 66 anos e ajudar as mulheres afetadas pelo aumento da idade de aposentadoria.

Uma questão maior ainda é sobre a capacidade de produzir os grandes aumentos planejados em investimentos, principalmente na economia verde. O trabalhismo está prometendo um "sistema de energia de zero carbono na década de 2030". Isso é improvável. Mais importante, é irrelevante para salvar o planeta, já que o Reino Unido produz 1,2% das emissões globais de gases do efeito estufa. A questão é na verdade como a Grã-Bretanha poderia ajudar a oferecer uma solução global.

Outra preocupação deve ser o retorno à nacionalização. Lembro-me das indústrias nacionalizadas na década de 1970. A ideia de uma rede ferroviária britânica ou um monopólio nacional de banda larga me enche de presságios. Isso está intimamente relacionado a um dos pontos cegos do trabalhismo. A única menção do manifesto à política de concorrência é: "Daremos voz aos trabalhadores em órgãos públicos como a Autoridade de Concorrência e Mercados". Isso diz muito.

Um dos temas da carta dos economistas é a necessidade de superar a "relutância do setor privado" a investir. Isso é realmente essencial. Mas é plausível que o capital privado, e especialmente o capital estrangeiro, do qual o Reino Unido tanto depende, se apresse a investir em um país empenhado em aumentar seus impostos, expropriar sua riqueza e colocar trabalhadores em seus conselhos, queiram ou não? Uma corrida para a porta é muito mais plausível. O manifesto não contém uma única menção favorável da palavra "lucro". As empresas não perceberão uma atitude tão hostil?

Em uma economia com baixo desemprego e um deficit de conta corrente de cerca de 3,5% do PIB, é provável que esse programa extremamente expansionista e revolucionário desencadeie a fuga de capitais e o colapso da moeda. O Banco da Inglaterra pode até ser impedido de aumentar as taxas de juros. A inflação então saltaria, e controles cambiais seriam impostos. O Reino Unido sairia do clube das democracias avançadas.

Isso quer dizer que eu gosto dos conservadores? Absolutamente não. O programa dos trabalhistas para o Brexit –renegociação e outro referendo– é muito mais interessante que as loucuras de Boris Johnson. Mas eu confio no trabalhismo de Corbyn com meu país? Não. Precisamos desesperadamente de um governo reformador. Infelizmente, não é esse.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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