Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Matias Spektor
Descrição de chapéu

Guinada de Trump afeta próximo presidente do Brasil

Casa Branca pisou no acelerador na diplomacia para a América Latina

Diplomacia do governo Trump para América Latina cria uma dinâmica competitiva entre os países da região
Diplomacia do governo Trump para América Latina cria uma dinâmica competitiva entre os países da região - AFP

A política do governo Trump para a América Latina está em pleno movimento. Da renegociação do Nafta ao endurecimento com a Venezuela, a Casa Branca pisou no acelerador da diplomacia regional. Nos próximos nove meses, essa máquina ganhará velocidade e vida própria.

O motivo é fácil de entender: em novembro, o presidente americano enfrentará seu teste mais duro, pois o Partido Republicano disputará 435 vagas para deputado, 34 assentos no Senado, 39 governos Estaduais e uma porção de câmaras locais. O resultado da disputa definirá quão árduo será o resto do mandato presidencial e sinalizará quais as chances de Trump em uma eventual campanha pela reeleição.

Na prática, isso significa que boa parte da diplomacia latino-americana do governo Trump será feita em Estados como Flórida, Arizona e Texas, onde a diáspora latina tem presença eleitoral significativa. Entra aí boa parte da agenda em temas tais como segurança, narcotráfico, Cuba e Venezuela.

Outra parte da agenda será dominada pela necessidade que Trump tem de mobilizar o eleitor tradicional do Partido Democrata que, nas últimas eleições, virou a casaca para dar-lhe a vitória sobre Hillary Clinton. Entra aí a agenda de imigração, comércio, China e Nafta.

Para o Brasil, tais circunstâncias criam oportunidades que antes não existiam. A mais óbvia diz respeito à nova disposição americana de denunciar o aumento da presença chinesa na América Latina.

Os chineses representam o novo eixo de nossa dependência externa. Além da posição que ocupam na pauta de exportações e de investimentos, os chineses acabam de comprar um terço do setor elétrico brasileiro e prometem abocanhar parcelas significativas da geração elétrica futura.

A retórica e a realidade da competição entre Washington e Pequim na América Latina têm tudo para beneficiar o Brasil.

Só que a natureza do jogo também impõe novos riscos aos interesses brasileiros. O mais gritante refere-se à Venezuela. Como Washington fará diplomacia de olho na urna, suas chances de meter os pés pelas mãos são enormes, ao passo que nossa capacidade de conter desastres continua mínima.

Além disso, a nova diplomacia de Trump para a América Latina cria uma dinâmica competitiva entre os países da região: Juan Manuel Santos, da Colômbia, e Mauricio Macri, da Argentina, já se movem para tirar vantagem, atendendo demandas americanas em troca de recursos políticos.

Ocorre que essa dinâmica chega em um momento no qual o Brasil não consegue —devido às circunstâncias do governo Temer e ao calendário eleitoral— partir para cima.

O ônus e o bônus de um eventual ajuste diplomático ficarão para o próximo presidente brasileiro.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.