Matias Spektor

Professor de relações internacionais na FGV.

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Mourão recoloca a estratégia brasileira para a China nos trilhos

Brasil depende do país chinês para turbinar investimentos e manter superávit

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Hamilton Mourão durante participação em feira de segurança e defesa no Rio, neste mês
Hamilton Mourão durante participação em feira de segurança e defesa no Rio, neste mês - Mauro Pimentel/AFP

O núcleo familiar do presidente flertou durante meses com a tese segundo a qual o Brasil deveria ajudar os Estados Unidos a conter a expansão econômica da China na América Latina.

Os generais do governo detonaram a proposta logo nos primeiros dias de governo e, nesta semana, durante viagem do vice-presidente Hamilton Mourão aos Estados Unidos, eliminaram a proposta do cardápio.  

O argumento mais utilizado para defender a medida é econômico: o Brasil precisa da China para turbinar investimentos e manter seu superávit comercial.

É tudo verdade, mas a questão não acaba por aí. Há um elemento geopolítico nessa história toda que é fundamental.

A lógica é assim: há anos, a China investe na expansão de sua presença econômica na América Latina porque isso lhe permite manter o ritmo de seu crescimento. Diante disso, os Estados Unidos sempre tiveram uma atitude flexível. Sempre e quando os chineses não tentem projetar poder militar no entorno latino-americano, está tudo bem. 

É um esquema bom para todos. Os chineses enriquecem, as economias latino-americanas se aquecem e os Estados Unidos mantêm a sua hegemonia na região assegurada.

Isso explica, por exemplo, por que a China mantém até hoje seus contratos de petróleo com a Venezuela, mas não mexerá um dedo para defender o regime chavista.   

Esse equilíbrio que já dura há anos, no entanto, está sendo quebrado. Donald Trump  substituiu a política tradicional de acomodação da expansão econômica da China na América Latina por outra, mais dura, de contenção.

Tudo começou há dois anos, quando ele forçou Canadá, México e países centro-americanos a impor barreiras à China. Agora, a Casa Branca tenta arregimentar o apoio do Brasil para fazer o mesmo na América do Sul. 

Trata-se de estratégia mal concebida. Sua premissa equivocada é que, diante da oposição cerrada dos Estados Unidos, a China abandonará a América Latina. 

Na realidade, acontece o oposto disso. A cada hostilidade de Washington, Pequim busca se aproximar mais das capitais latino-americanas onde tem espaço para obter, consolidar ou expandir sua posição. 

Não o faz por uma suposta aspiração hegemônica (ela sabe que, nesta região, os Estados Unidos são imbatíveis). Mas o faz porque isso lhe permite aumentar o custo daqueles que querem tirá-la do tabuleiro econômico regional. 

Por isso, a tentativa de conter a China nas Américas não levará ao “trunfo do Ocidente”, mas a um ambiente mais propenso ao conflito.  

Como a China veio para ficar, o Brasil ganha ao tratá-la e cobrá-la como parte interessada na criação de um entorno regional mais estável e afluente.

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