Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Mauricio Stycer

Revolução ou evolução?

A indústria foi capaz de se reinventar e enterrou previsões sobre o fim da TV

Em meio a um processo intenso de inovações tecnológicas, o debate sobre o futuro da televisão se desenvolve já há mais de 15 anos, desafiando quem faz previsões muito categóricas.

Inúmeros estudos e análises foram publicados na última década tentando compreender o alcance das mudanças em curso, mas poucos ganharam tradução por aqui. Em 2007, por exemplo, Amanda D. Lotz, professora da Universidade de Michigan, lançou o livro "The Television Will Be Revolutionized", no qual alertava sobre a chegada de uma "nova era de televisão e crítica".

Apesar de o título do estudo anunciar uma futura revolução, a pesquisadora teve o cuidado de registrar que não estava fazendo uma previsão. "A forma precisa que as tecnologias e os usos da televisão tomará não está definida, mas mudanças substanciais na indústria já estão aparentes, e a necessidade de informações práticas e modelos conceituais para repensar a mídia é evidente."

Dez anos depois, ao lançar um novo livro sobre o assunto, "We Now Disrupt this Broadcast" (The MIT Press, 256 págs., US$ 27,95 na Amazon), o entusiasmo foi refreado. "Ao longo dos anos que passei pesquisando e escrevendo este livro, debati se esta é uma história de evolução ou revolução."

Com essa preocupação em mente, a pesquisadora relativiza, por exemplo, uma das mudanças mais perceptíveis, que é hoje a possibilidade oferecida ao espectador de assistir aos programas de sua preferência no horário em que bem entender, fora do determinado pela grade das emissoras.

Ao colocar todos os episódios de "House of Cards" de uma só vez à disposição dos seus assinantes, em 1º de fevereiro de 2013, a Netflix rompeu um paradigma e deu um nó na indústria. Mas esse passo "revolucionário" não teria ocorrido sem inovações e mudanças anteriores, como os gravadores digitais. Lançados mais de uma década antes, eles permitiram ao espectador gravar programas exibidos na TV tradicional para ver posteriormente.

Mesmo a mudança mais essencial, a que anunciou a chegada do futuro, merece consideração especial da autora. Falo da transmissão digital, que ofereceu a possibilidade de conteúdos audiovisuais alcançarem o telefone ou o laptop do espectador pela internet.

Foi esta inovação tecnológica que levou os mais apressados a vaticinarem a morte da televisão e o fim das operadoras de TV a cabo. Mas elas se adaptaram e, em 2015, observa Amanda Lodz, as empresas líderes no mercado de TV por assinatura já dominavam, em situação de quase monopólio, o provimento de acesso a internet nos Estados Unidos.

Outra questão importante em períodos de grandes mudanças é o "timing". Investimentos na direção certa, mas feitos antes da hora, resultaram em perdas enormes para muitas empresas. A pesquisadora cita, por exemplo, a aposta em distribuição de conteúdo pela internet feita pela CNN, Time Warner e MTV em 2005, quando isso ainda não era o que o espectador desejava.

O mesmo vale, hoje, para a aposta em realidade virtual. Esse parece ser o novo filão da indústria, mas já é a hora? "As revoluções são mais lentas e mais medidas do que se espera", escreve a autora.

Monty Python

Trago uma excelente notícia sobre o Monty Python, tema da coluna em 18/2, na qual comentei o lançamento no Brasil da autobiografia do grupo. A Netflix acaba de pôr em seu catálogo os 45 episódios de "Flying Circus", a inovadora série que o sexteto fez para a BBC entre 1969 e 74. Aproveito para corrigir uma informação: a série foi exibida pelo canal pago Multishow, em 1996.

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