Séries ruins ou muito ruins há aos montes por aí, na TV aberta, nos canais por assinatura, nos serviços de streaming. Estão na grade para preencher espaço, ocupar o tempo do espectador e, eventualmente, encontrar fãs. Não esperam, nem merecem, muita atenção dos críticos.
Mas quando é a HBO que exibe uma série de baixa qualidade, como “Hard”, o ruído que causa se torna difícil de ignorar. Trata-se, como se sabe, do canal que teve o papel mais importante na revolução que elevou o status da televisão no século 21.
Com um modelo baseado em assinantes, e não em publicidade, desde os anos 1990, a HBO apostou em conteúdos ousados e inovadores. E mostrou que havia público suficiente para viabilizar esta aposta.
Séries como “Oz” (1997), “Sex and the City” (1998) e “Família Soprano” (1999), seguidas por outras como “A Sete Palmos” (2001), “The Wire” (2002) e, mais para frente, “Em Terapia” (2008), “The Newsroom” (2012), “Girls” (2012) e “The Leftovers” (2014), estabeleceram a HBO como um farol para quem apostava em originalidade e qualidade na TV.
Não por acaso, em 2013, ao lançar “House of Cards”, a série que anunciou a transformação da Netflix numa grande produtora de conteúdo, um dos principais executivos da empresa, Ted Sarandos, explicou: “O objetivo é nos tornarmos a HBO mais rapidamente do que a HBO consiga virar uma Netflix”.
Produzindo desde 2005 (“Mandrake”), a HBO Brasil nunca conseguiu atingir o mesmo padrão da matriz, mas já exibiu algumas séries de ótimo nível, como “Magnífica 70” (2015), e registrou alguns sucessos de qualidade, como “O Negócio” (2013) e “Psi” (14).
Lançada em maio, “Hard” sinaliza a aposta em um conteúdo simplório e mais popular. Co-produzida pela Gullane, com recursos da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), é baseada em uma série francesa com o mesmo título.
A premissa é boa: após a morte do marido logo na primeira cena, sua mulher descobre que o negócio que mantém o alto padrão de vida da família é uma produtora de vídeos pornôs.
Ao longo de seis episódios, acompanhamos Sofia (Natalia Lage) mergulhar neste universo. Inicialmente com nojo, ela evolui para a curiosidade e, rapidamente, se transforma numa empresária sagaz e voraz.
É uma comédia que não faz rir em momento algum. Em algumas passagens, propõe algumas questões mais sérias, como o preconceito contra os atores que se dedicam a este ofício, mas consegue tornar ainda pior a imagem dos profissionais, retratando-os como ignorantes.
Por três longos episódios, sem sair do lugar, “Hard” mostra o esforço de Sofia de produzir “filmes de bom gosto”. O roteiro não desenvolve nenhuma história paralela e se concentra exclusivamente no percurso previsível da protagonista.
Bons atores (Denise Del Vecchio, Martha Nowill, Julio Machado) submergem diante do texto primário. Natalia Lage faz a mesma cara de espanto em todas as cenas. Apenas Fernando Alves Pinto, como o pragmático cineasta Pierre, se salva.
O roteiro é repleto de diálogos primários, como este. “Tem uma coisa muito boa que eu faço para desestressar”, diz Lúcia. “O quê?”, pergunta Sofia. “Sexo”, responde a amiga.
“Hard” segue uma tendência na produção de séries brasileiras de ficção mais recentes, como “Ninguém Tá Olhando” (Netflix, 2019), que apostam em histórias simples, infantis mesmo, em busca de um público maior.
Muito distante do que já representou, a HBO parece estar disposta apenas a poder dizer que tem conteúdo brasileiro em seu catálogo.
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