Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Série 'Hard' mostra que HBO aposta em conteúdo simplório no Brasil

Em busca de público maior, braço local da emissora se afasta da originalidade e qualidade que eram seus sinônimos

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Séries ruins ou muito ruins há aos montes por aí, na TV aberta, nos canais por assinatura, nos serviços de streaming. Estão na grade para preencher espaço, ocupar o tempo do espectador e, eventualmente, encontrar fãs. Não esperam, nem merecem, muita atenção dos críticos.

Mas quando é a HBO que exibe uma série de baixa qualidade, como “Hard”, o ruído que causa se torna difícil de ignorar. Trata-se, como se sabe, do canal que teve o papel mais importante na revolução que elevou o status da televisão no século 21.

Com um modelo baseado em assinantes, e não em publicidade, desde os anos 1990, a HBO apostou em conteúdos ousados e inovadores. E mostrou que havia público suficiente para viabilizar esta aposta.

Séries como “Oz” (1997), “Sex and the City” (1998) e “Família Soprano” (1999), seguidas por outras como “A Sete Palmos” (2001), “The Wire” (2002) e, mais para frente, “Em Terapia” (2008), “The Newsroom” (2012), “Girls” (2012) e “The Leftovers” (2014), estabeleceram a HBO como um farol para quem apostava em originalidade e qualidade na TV.

Não por acaso, em 2013, ao lançar “House of Cards”, a série que anunciou a transformação da Netflix numa grande produtora de conteúdo, um dos principais executivos da empresa, Ted Sarandos, explicou: “O objetivo é nos tornarmos a HBO mais rapidamente do que a HBO consiga virar uma Netflix”.

Produzindo desde 2005 (“Mandrake”), a HBO Brasil nunca conseguiu atingir o mesmo padrão da matriz, mas já exibiu algumas séries de ótimo nível, como “Magnífica 70” (2015), e registrou alguns sucessos de qualidade, como “O Negócio” (2013) e “Psi” (14).

Lançada em maio, “Hard” sinaliza a aposta em um conteúdo simplório e mais popular. Co-produzida pela Gullane, com recursos da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), é baseada em uma série francesa com o mesmo título.

A premissa é boa: após a morte do marido logo na primeira cena, sua mulher descobre que o negócio que mantém o alto padrão de vida da família é uma produtora de vídeos pornôs.

Ao longo de seis episódios, acompanhamos Sofia (Natalia Lage) mergulhar neste universo. Inicialmente com nojo, ela evolui para a curiosidade e, rapidamente, se transforma numa empresária sagaz e voraz.

É uma comédia que não faz rir em momento algum. Em algumas passagens, propõe algumas questões mais sérias, como o preconceito contra os atores que se dedicam a este ofício, mas consegue tornar ainda pior a imagem dos profissionais, retratando-os como ignorantes.

Por três longos episódios, sem sair do lugar, “Hard” mostra o esforço de Sofia de produzir “filmes de bom gosto”. O roteiro não desenvolve nenhuma história paralela e se concentra exclusivamente no percurso previsível da protagonista.

Bons atores (Denise Del Vecchio, Martha Nowill, Julio Machado) submergem diante do texto primário. Natalia Lage faz a mesma cara de espanto em todas as cenas. Apenas Fernando Alves Pinto, como o pragmático cineasta Pierre, se salva.

O roteiro é repleto de diálogos primários, como este. “Tem uma coisa muito boa que eu faço para desestressar”, diz Lúcia. “O quê?”, pergunta Sofia. “Sexo”, responde a amiga.

“Hard” segue uma tendência na produção de séries brasileiras de ficção mais recentes, como “Ninguém ​Tá Olhando” (Netflix, 2019), que apostam em histórias simples, infantis mesmo, em busca de um público maior.

Muito distante do que já representou, a HBO parece estar disposta apenas a poder dizer que tem conteúdo brasileiro em seu catálogo.

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