Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Bolsonaro quer surfar na reputação da Globo e gasta mais com publicidade

Ocupar espaço no veículo de maior audiência da televisão permite sair das bolhas digitais cruciais em 2018

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O texto a seguir foi escrito por Wladimir Gramacho, coordenador do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília, e faz parte da campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Pelo segundo ano, colunistas do jornal cedem seus espaços para a reflexão sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. A iniciativa é do Instituto Serrapilheira.

O presidente Jair Bolsonaro já deu mostras de não gostar nada da TV Globo, a chamando de lixo —o que incentivou muitos dos seus admiradores a se referirem à emissora como "Globolixo". Ainda assim, o gasto do governo Bolsonaro com publicidade na TV da família Marinho aumentou 75% no primeiro semestre de 2022, se comparado com o mesmo período do ano passado. Por que será? Um estudo recente pode ajudar a entender a decisão do Palácio do Planalto.

O presidente Jair Bolsonaro, durante lançamento do Plano Safra 2022/2023, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 29.jun.22/Folhapress

Três pesquisadores da Universidade de Amsterdã perguntaram a 6.600 pessoas de dez países europeus sua percepção sobre a qualidade da informação no conteúdo noticioso a que se expõem. Uma das principais conclusões do trabalho, publicado neste ano no European Journal of Communication, é que pessoas que assistem com maior frequência a noticiários na TV têm menor percepção de estarem expostas a informação de má qualidade —isto é, "misinformation"— ou a desinformação —"disinformation".

A diferença entre esses dois tipos de problemas informacionais —que sempre existiram, mas foram agravados pela comunicação digital— é que as informações de má qualidade ("misinformation") são produto de jornalismo malfeito, apressado ou preguiçoso, cujo resultado são notícias que podem até estar erradas, mas que não pretendiam causar dano proposital a ninguém quando foram elaboradas. Já as desinformações ("disinformation") têm alvo certo.

O estudo dos pesquisadores holandeses também descobriu que as pessoas que veem com maior frequência notícias nas redes sociais —especificamente Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, YouTube e Reddit— informam ter uma percepção maior de que estão expostas a informações de má qualidade e a desinformações.

Ou seja, se você às vezes acha ruim o jornalismo que aparece na TV, mas acha pior o tipo de notícia que surge na timeline das suas redes sociais, saiba que não está sozinho e que isso não acontece só no Brasil. Também ocorre em países que costumamos citar como referência de civilidade e desenvolvimento, como é o caso de Dinamarca, Suécia, Holanda, França ou Alemanha.

A decisão do governo Bolsonaro em aumentar seu investimento publicitário na Globo, portanto, tem sólida base empírica a favor desse movimento tático na disputa eleitoral de 2022. Ocupar espaço no veículo de maior audiência da televisão, que por aqui também tem maior credibilidade do que as redes sociais, permite ao bolsonarismo sair das bolhas digitais que desde as eleições de 2018 foram tão importantes para seu surgimento e consolidação.

A ocupação desse espaço, no entanto, não se dá sem regras. Se, em sua conta oficial no Twitter e em suas lives no Facebook, Jair Bolsonaro pode dizer o que bem entende com reduzidos riscos de ter suas postagens censuradas pelas plataformas, na televisão e com a assinatura do governo federal, o presidente-candidato precisa ter mais compromisso com a verdade.

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