Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Duas séries indicam o esgotamento do gênero 'true crime'

'Candy' e 'Amor e Morte' tratam do mesmo crime, ocorrido no Texas em 1980

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No futuro, quando for feito um levantamento sobre as grandes ondas que moveram a produção de televisão nas primeiras décadas do século 21, um capítulo certamente será dedicado ao "true crime".


As séries inspiradas em crimes reais, tanto as de ficção como as documentais, sempre estiveram presentes na programação, mas ganharam enorme impulso com o crescimento das plataformas de streaming. A reconstituição de casos policiais se mostrou uma fonte fértil para roteiristas e altamente sedutora para grandes plateias.

O levantamento histórico desse tipo de produção possivelmente vai indicar que a moda de "true crime" chegou ao seu pico na virada de 2022 para 2023. O sinal mais evidente dessa situação terá sido a exibição, num intervalo de menos de um ano, de duas séries quase idênticas, sobre o mesmo crime, em duas grandes plataformas.

Estou falando de "Candy, uma história de paixão e crime" (Star +), lançada em maio de 2022, e "Amor e Morte" (HBO), que estreou em abril deste ano.


Ambas recriam, no formato de ficção, a mesmíssima tragédia, ocorrida numa cidade do Texas, em 1980, e que ganhou dimensão nacional nos Estados Unidos durante o julgamento do caso.

Esmiuçada em reportagens de jornais e, posteriormente, num podcast que serviu de base para uma das duas séries, é a história de Candy Montgomery, uma dona de casa entediada com a sua vida pacata, que um dia decide ter um amante.


Insatisfeita com o cotidiano rotineiro de criação dos filhos, reuniões na Igreja Metodista e partidas de vôlei noturnas, ela propõe ao marido de uma conhecida que tenham um relacionamento extraconjugal, mas sem envolvimento afetivo.

Após muito planejamento, Candy e Alan Gore passam a ter encontros furtivos num motel de beira de estrada, onde almoçam e transam. Com o tempo, naturalmente, o caso degringola.

É uma história, de fato, curiosa, mas mesmo o maior fã de "true crime" haverá de concordar comigo que não é necessário assistir às duas séries –basta ver uma delas para conhecer o caso e se entreter.

Talvez apenas profissionais do audiovisual, em particular os roteiristas, possam se interessar em assistir, em sequência, a "Candy" e "Amor e Morte". Poderá ser um exercício interessante em cursos para estudiosos do assunto.

Ainda que cheguem ao mesmo lugar, é curioso observar algumas escolhas diferentes feitas pelas duas produções, desde o ponto de partida da narração até o perfil de alguns dos personagens.

A protagonista da primeira série é Jessica Biel, intencionalmente apresentada como uma mulher pouco atraente, desinteressante mesmo. Já a protagonista da outra produção é Elizabeth Olsen, que faz uma Candy muito mais sensual e picante.

Amor e Morte
Elizabeth Olsen em cena de 'Amor e Morte', da HBO Max - Divulgação


A antagonista, Betty Gore, é apresentada praticamente como uma vilã, assustada e melancólica, em "Candy" e apenas como uma mulher sem brilho nenhum em "Amor e Morte". Na primeira ela é vivida pela excelente Melanie Lynskey; na segunda, por Lily Rabe. O terceiro personagem do triângulo, Alan Gore, é vivido respectivamente por Pablo Schreiber e Jesse Plemons.


O fato de duas grandes produtoras realizarem, praticamente ao mesmo tempo, séries sobre um mesmo crime, ocorrido em 1980, pode ser apenas uma coincidência infeliz. Ou um indício de esgotamento do gênero.

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