Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Ação, realismo e efeitos especiais

‘DNA do Crime’ evita abordagem chapa branca e tem Polícia Federal com erros, corrupção e muitas traições

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Maior investimento da Netflix em uma produção brasileira, até hoje, "DNA do Crime" é, essencialmente, uma série de ação que opõe o crime organizado à Polícia Federal. Espectadores ávidos por temas originais terão razão em reclamar: Mais uma? Sim. Mais uma.

Seria injusto, porém, não mencionar algumas qualidades significativas. O que mais chama a atenção, de cara, é o padrão da produção. Com a ajuda de técnicos e know how americano, as cenas de assaltos, perseguição e violência brutal estão entre as melhores já filmadas por aqui.

Em oito episódios, com heróis e vilões sem filtros, conflitos intensos e bons ganchos, a série oferece entretenimento que agrada ao grande público e convida ao consumo rápido.

É inevitável a comparação com a recente "Cangaço Novo", que também despertou interesse por suas qualidades técnicas acima da média. "DNA do Crime" apresenta uma temática de alcance mais limitado em contraposição à trama do Prime Video, que é igualmente de ação e violência, mas ambiciona discutir implicações sociais, políticas e religiosas da violência e da miséria no país.

Por outro lado, "DNA do Crime" avança muito ao tentar traçar um retrato complexo da Polícia Federal, a verdadeira protagonista da série, e consegue quase sempre fugir da bajulação "chapa branca" de produções recentes.

Quem não se lembra da série "O Mecanismo", de José Padilha, realizada e exibida pela Netflix em 2018 e 2019, e do filme "Polícia Federal: A Lei É para Todos", de Marcelo Antunez, de 2017, também disponível na plataforma americana?

Ambos refletem um momento em que Sergio Moro e Deltan Dallagnol, além de inúmeros outros procuradores do Ministério Público Federal, delegados e agentes da Polícia Federal eram vistos como super-heróis, acima do bem e do mal.

A série e o filme envelheceram mal, naturalmente, diante das revelações da Vaza Jato e de muitas decisões do STF. São hoje peças de museu, a lembrar do risco que se corre ao deixar a sobriedade de lado e apostar na mistificação.

Mesmo contando com consultoria de agentes da PF, ou por causa dessa ajuda, a instituição é retratada em "DNA do Crime" com imperfeições, problemas e erros. O realismo nas falas e no gestual de muitos personagens também é reforçado pela presença no elenco de diversos atores que são egressos do sistema prisional.

É inevitável um spoiler vago aqui: "DNA do Crime" mostra um agente federal corrupto, expõe disputa de poder entre chefes, decisões que fogem ao regulamento e puxadas de tapete provocadas por vaidades e ciúmes. Para não falar de planos de ação mal calculados e executados.

A série só escorrega ao dar tratamento de relações públicas à área científica da PF, e cansa um pouco na insistência no clichê sobre o agente que trabalha 24 horas por dia e deixa a família em segundo plano.

Thomás Aquino brilha muito como Sem Alma, um criminoso impiedoso. Maeve Jinkings, como Suellen, e Rômulo Braga, como Benício, formam a dupla principal de agentes da PF. Estão bem, mas aparecem em cena o tempo todo, talvez até demais. Outro destaque no bom elenco é Alex Nader, como o criminoso Isaac.

Uma curiosidade sobre "DNA do Crime", criada e dirigida por Heitor Dhalia para a Netflix, é que foi produzida por Manoel Rangel, presidente da Ancine de 2006 a 2017. Por muitos anos, o executivo batalhou pela regulamentação das plataformas de streaming no país, tema hoje na pauta de Brasília, mas que ainda não ocorreu.

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