Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Argentina

É futebol, mas parece novela

Séries sobre David Beckham e Lionel Messi exibem o que há de melhor e de pior em documentários esportivos

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As séries baseadas em casos policiais reais seguem dominando o cardápio das plataformas de streaming, mas em marcha lenta. "O Assassinato de Jill Dando", lançado há poucos dias pela Netflix, reitera a falta de imaginação do filão.

A morte da jornalista britânica em 1999, até hoje sem solução, é lembrada de forma protocolar em três longos episódios, que revivem as muitas teorias sobre o crime, mas não acrescentam qualquer novidade ou atualização ao caso.

Quem busca boas histórias e entretenimento em documentários pode procurar em outro subgênero —os esportivos. Potencial não falta. A trajetória de um atleta contém, quase sempre, altas doses de emoção, drama, sucesso, quedas, voltas por cima e reviravoltas variadas.

Lançada no início de outubro pela Netflix, a série documental sobre o ex-jogador David Beckham é um ótimo exemplo das possibilidades desse tipo de programa. Ainda que tenha um caráter oficial, conta uma história fascinante, que vai além do relato biográfico e ajuda a visualizar a transformação do futebol num negócio bilionário.

Beckham era craque. Foi o principal jogador do Manchester United por inúmeras temporadas, de 1992 a 2003. Atuou pela seleção da Inglaterra em três Copas do Mundo e integrou o famoso time de "galácticos" do Real Madrid de 2003 a 2007.

Também jogou no Los Angeles Galaxy, no Milan e no PSG.

Bonitão, casado com Victoria —então integrante do grupo musical Spice Girls—, ele logo se tornou garoto-propaganda de inúmeras marcas e assumiu, inicialmente com prazer, o papel de jogador com status de celebridade.

A série é muito esclarecedora ao mostrar como a carreira do jogador é, sim, afetada por diferentes fatores extracampo, como conflitos no casamento, compromissos publicitários e uma insana cobertura midiática. Como diz um colega, a sua vida "parece uma novela".

O documentário não esconde que as transações que levaram Beckham para a Espanha e depois para os Estados Unidos foram motivadas mais pelo potencial de negócios que ele atraía do que por seu futebol.

Muito bem editada, com imagens de todos os fatos relatados e algum acesso à intimidade do casal, a produção tem como maior qualidade o amplo arco de depoimentos que apresenta, cobrindo cada fato relevante da carreira e da vida do protagonista.

Séries desse tipo, mas com orçamentos mais magros, costumam recorrer a um mesmo entrevistado para falar sobre tudo. Em "Beckham", isso não ocorre: as dezenas de pessoas ouvidas dão entrevistas apenas sobre o que testemunharam.

Hoje coproprietário de um time de futebol, na Flórida, o Inter Miami, Beckham é também personagem coadjuvante de outra série recém-lançada, "Messi nos Estados Unidos".

Esta, porém, é lamentável.

Mesmo quem aprecia o talento do craque argentino ficará frustrado. É uma série desavergonhadamente de caráter promocional, produzida pela Apple, que também é dona dos direitos de transmissão dos jogos da liga americana de futebol.

Produtores brasileiros também têm investido nesse filão. O Globoplay já produziu boas séries, como as dedicadas a Casagrande e a Castor de Andrade. O Discovery realizou em 2022 uma muito boa sobre a tragédia do voo da Chapecoense.

Há uma semana, a ESPN (Star +) lançou "Por que Waldemar?", uma série em três episódios destinada a esmiuçar uma cena cômica de 30 segundos, ocorrida no anúncio de um novo técnico do Flamengo, em 2003.

Mendel Bydlowski e Wagner Patti procuram mostrar que a confusão ocorrida naquele instante é sintoma de algo maior, um caos que reinava então no clube e no futebol brasileiro. Parece um exagero dedicar quase três horas a esse episódio —e é mesmo.

Mas não deixa de ser divertido.

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