Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Descrição de chapéu Emmy

Queria ter assistido à reunião em que se criou Ilhados com a Sogra

Brainstorming que criou programa deve ser mais divertido que o novo reality show agora disponível na Netflix

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Quando soube que a Netflix iria exibir um reality show chamado "Ilhados com a Sogra", brinquei no X (ex-Twitter) que pagaria para assistir à reunião que levou à criação do programa. Para chegar a uma ideia tão sem pé nem cabeça como essa, pensei, a conversa deve ter sido muito boa.

Certamente, vários roteiristas e produtores foram desafiados a criar algo de impacto, que fosse diferente. Para chegar à ideia vencedora, devem ter proposto centenas de variações, debatido intensamente e, eventualmente, até discutido asperamente entre si antes de concluir que confinar seis pessoas com suas sogras seria genial.

"Precisava de alguma coisa que fosse diferente, um experimento", confirmou a atriz Fernanda Souza no vídeo que anuncia a estreia, em 9 de outubro.

Uma pessoa que assina como Alessandra me escreveu: "Te digo, por experiência própria, que toda reunião de desenvolvimento começa assim. Tudo tem que ser 'fora da caixa', 'inédito', 'não pode plagiar conteúdo', mas o produto final é sempre um mix de vários programas. Foram 12 anos nesse mercado, ouvindo absurdos de todos os lados".

Por tudo isso, imagino que o "brainstorming" que levou ao nascimento de "Ilhados com a Sogra" tem o potencial de ser mais divertido, inclusive, que o próprio programa.

Fernanda Souza em 'Ilhados com a Sogra' - Ricardo Carvalheiro/Netflix

Outra atração que, seguramente, nasceu de uma reunião em que roteiristas foram desafiados a ter uma ideia genial foi "Jury Duty". Disponível no Prime Video, o reality show simula a realização de um julgamento. Todos os participantes são atores, com exceção de um jurado, que não sabe que está fazendo o papel de bobo.

Sou obrigado aqui a discordar do meu amigo e colega de Ilustrada Tony Goes, que considerou "Jury Duty" a série mais engraçada do ano. Nem a considero uma série. Classificaria como uma "pegadinha" em oito episódios, muito além do necessário, que convida o espectador a ser cúmplice da ilusão a que o jurado ingênuo é submetido.

"Jury Duty" foi indicada ao Emmy de melhor comédia do ano. Eu a indicaria a uma nova categoria, fica aqui a dica, de "pegadinha expandida" ("expanded prank"). Também vai disputar prêmios nas categorias de ator coadjuvante, roteiro e escalação de elenco. É uma prova de que a indústria do entretenimento recompensa bem ideias supostamente geniais.

Com previsão de entrega em 15 de janeiro de 2024, o Emmy de comédia também é disputado por "Abbott Elementary", "Barry", "The Bear", "Ted Lasso", "The Marvelous Mrs. Maisel", "Only Murders in the Building" e "Wandinha".

Gosto de várias delas, em especial de "Barry". Também sou fã de "The Bear", mas só alguém com humor muito peculiar a classificaria como comédia.

Entre todas, há algo que me fascina em "Only Murders in the Building", disponível no Star +: a sua capacidade de divertir com um enredo frequentemente infantil. Das oito candidatas, é a mais básica, uma comédia em estado puro, sem qualquer outra ambição além de fazer o espectador sorrir e se divertir.

A série acompanha as aventuras de três apaixonados por podcasts de "true crime", interpretados por Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez. Eles moram num mesmo prédio de luxo em Nova York e, a cada temporada, investigam um novo crime.

Na sua aparente simplicidade e falta de pretensão, a série diverte explorando o talento extraordinário de Martin e Short para a comédia, além de um elenco coadjuvante espetacular –Meryl Streep está na terceira temporada, que termina na próxima terça-feira (3).

Fosse uma peça de vestuário, "Only Murders in the Building" seria um "pretinho básico", um vestido que serve em todas as ocasiões. É disso que também precisamos na televisão.

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