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Maria Cristina Frias, jornalista, edita a coluna Mercado Aberto, sobre macroeconomia, negócios e vida empresarial.

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Perdas com cargas paradas na estrada não devem ser ressarcidas por seguros

Bens que apodreceram em decorrência do tempo nas estradas não estão cobertos

Os donos de cargas que estragaram nas estradas bloqueadas pelos manifestantes não deverão conseguir ressarcimento pelas seguradoras, ainda que tenham comprado apólices que os protegiam de riscos ligados a transportes.

Existem cláusulas que preveem pagamentos aos segurados em casos de greve, tumulto e comoção social, afirma Sergio Caron, responsável pelo segmento Marsh.

“Elas são para danos ocasionados diretamente por manifestantes grevistas, situações em que alguém deliberadamente ataca a carga parada.”

Perdas com bens que apodreceram ou perderam a validade em decorrência do tempo perdido nas estradas não estão previstos, afirma Caron.

O tema deverá ser judicializado, segundo Ernesto Tzirulnik, presidente do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro.

Essa paralisação é única, não se trata de greve, pois os caminhoneiros não pararam para exigir algo do sindicato patronal, afirma ele. 

“Se as seguradoras tinham intenção de excluir esse tipo particular de causa de prejuízo, redigiram essas situações nos contratos com um cuidado.”

Parte das reclamações dos segurados deverá ser atendida, diz Tzirulnik.

O número de empresas que deve pedir ressarcimento não deve ser alto, afirma Felipe Bastos, sócio do Veirano: “É um evento de força maior, geralmente cada um fica com seu próprio prejuízo”.

A receita com a venda de prêmios de seguros de transporte teve alta de 12,6% entre janeiro e abril deste ano, na comparação com o mesmo período de 2017.

 

Sentimentos contraditórios

A vitória dos caminhoneiros na negociação com o governo animou categorias de trabalhadores que começam a negociar reajustes, mas os sindicatos preferem não se vincular ao movimento que bloqueou as estradas.

“Acalorou a classe, as reivindicações são justas, mas há uma mensagem de autoritarismo que transcende os pedidos e me incomoda”, diz Mauro Brito, vice-presidente do Sintetel (trabalhadores de telecomunicações).

Uma outra categoria, a dos eletricitários de empresas prestadoras de serviços à distribuidoras de energia, quase entrou em greve por falta de pagamentos de salários ou benefícios atrasados.

“As empresas receberam uma verba das concessionárias e devem quitar isso. Desmarcamos a paralisação, mas mantemos o estado de greve”, afirma Eduardo Annunciato, do sindicato dos eletricitários de São Paulo.

Os bancários, que costumam parar durante seus dissídios, ainda não têm nenhuma suspensão prevista para este ano —isso será decidido no segundo semestre.

 

Randon faz aportes para melhorar a produtividade

A Randon, fabricante de reboques e autopeças, investirá R$ 100 milhões até o fim de 2018 no aumento de sua capacidade.

“O valor não inclui eventuais aquisições. O foco é melhorar a produtividade. Vamos direcionar recursos à área de implementos e à fábrica de freios”, diz o vice-presidente de finanças, Daniel Randon.

Entre os investimentos está a modernização de plantas em Caxias do Sul e São Leopoldo (RS), Chapecó (SC), Sorocaba (SP), e Argentina. “A ideia é tornar a fabricação mais ágil e usar materiais mais leves.”

A produção dedicada ao mercado externo, que historicamente representou menos de 20% da receita da empresa, deverá chegar neste ano a R$ 1,12 bilhão —26,6% do faturamento de 2017.

“Prevemos alta da produção nacional do setor, de 83 mil caminhões para 95 mil.” 

A paralisação dos caminhoneiros, contudo, poderá afetar o quadro, segundo ele.

“Nossas fábricas começaram a ficar desabastecidas na última quinta (24) e paramos a produção. Quando for normalizada, compensaremos [o tempo perdido] com jornadas aos sábados”, afirma Randon.

“A política de reajustes do preço do combustível tem impacto na renovação da frota. Não faz sentido um país com inflação baixa ter essa volatilidade de custos. Se a Petrobras tivesse concorrente, o preço não sofreria tanta variação assim.”

 

Acompanhar o... Mesmo com o enfraquecimento da greve dos caminhoneiros, hospitais privados ainda preveem problemas nos próximos dias. O Santa Catarina, de São Paulo, suspendeu as cirurgias eletivas desta semana.

...quadro O 9 de Julho alterou a dieta de pacientes em relação a frutas e verduras. Outros insumos não foram afetados, mas o hospital diz se preocupar com o estoque de medicamentos caso os efeitos da paralisação se prolonguem.

Receio O Hospital Israelita Albert Einstein afirma que alimentos, remédios, materiais e gases não estão chegando a suas unidades e que, caso a situação persista, os atendimentos poderão ser severamente impactados.

Menos... Houve queda na demanda por passagens rodoviárias e redução da frequência das viagens no país, segundo viações. Em Pernambuco, empresas trabalham com 70% da operação, diz a Abrati (associação do setor).

...ônibus O problema é a falta de combustível. Na Gontijo, houve diminuição da oferta de carros. O Grupo JCA também enfrenta problemas de abastecimento e afirma que a procura por passagens está 20% menor que a normal.

 

O preço do trabalho

Os salários representam 49% do gasto da indústria química com mão de obra, segundo a Abiquim (associação que representa o setor).

As despesas cresceram 8% em relação ao ano anterior, devido a reajustes, principalmente, e equivalem a quase 12% da receita líquida das companhias, afirma Fátima Ferreira, diretora da Abiquim.

“A mão de obra do Brasil custa mais que o dobro da do México, que tem sido um dos grandes alvos de investimentos do setor.”

Além dos salários, o gasto com trabalhadores foi composto por encargos sociais (24%), pagamentos  como férias e abonos (15%), e benefícios, como planos de saúde e previdência privada (12%).

 

com Felipe Gutierrez, Igor Utsumi e Ivan Martínez-Vargas

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