Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França
Descrição de chapéu desigualdade educacional

Homens brancos de alta renda (não) representam a sociedade?

Diversidade nos espaços de decisão ajudará a lidarmos de forma mais assertiva com problemas

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Vamos com calma. O título está um pouco confuso e provocativo, eu sei. Mas meu objetivo aqui é tentar ajudar a desenvolver um debate público construtivo em torno de temas sensíveis. Garanto que o texto será mais equilibrado.

Primeiramente, é importante lembrar que os homens brancos de alta renda representam o grupo dominante. Isso é um fato bem documentado pelas estatísticas. Em todos os espaços com maior status social e poder da sociedade brasileira, eles estão dominando.

Alguns tiveram uma origem desfavorecida e batalharam para avançar na vida. Contudo, a maioria está em suas posições por influência familiar. Desses, muitos aproveitaram suas condições socioeconômica favoráveis e se tornaram pessoas brilhantes. Outros não tiveram o mesmo empenho. Só chegaram aonde estão porque a loteria do nascimento ajudou.

Intevenção com frase de protesto de coletivo de artistas, Nos Ativistas, na avenida Faria Lima, na altura do numero 3477 (em frente ao prédio onde esta localizado o escritório do Google) para lembrar o dia Internacional dos Direitos Humanos - Eduardo Knapp - 10.dez.2020/Folhapress

Apesar disso, muitos estão genuinamente empenhados em transformar o Brasil. Entretanto, o viés de classe, gênero e raça pode afetar, em diversas situações, como eles interpretam os fatos e a qualidade de suas análises, comprometendo, assim, a efetividade de suas ações e o desenho das políticas públicas.

Isso ocorre porque a trajetória de um indivíduo influencia a forma como ele percebe e responde ao mundo. Por mais dedicada que uma pessoa possa ser na tentativa de resolver problemas complexos e ajudar no progresso da humanidade, existe uma parte do aprendizado que só é adquirido a partir das experiências pessoais.

O conhecimento tácito é difícil de ser codificado e transmitido através do ensino; ele precisa ser vivido. Deste modo, um homem branco de alta renda muitas vezes terá dificuldade de entender os dilemas enfrentados por mulheres, negros e por aqueles que enfrentam diariamente os desafios de sobreviver com baixa renda.

Evidentemente isso não quer dizer que eles não possam fazer contribuições significativas para esses grupos. No entanto, o ponto central é que a sua percepção para determinados problemas será amplificada quando conseguirmos construir uma sociedade mais integrada.

Além disso, suas preferências podem destoar dos outros grupos sociais. É difícil defender que, na média, os homens brancos de alta renda darão o mesmo peso que as minorias para temas que não os afetem diretamente como, por exemplo, feminicídio, assédio sexual, demarcação de terras indígenas, escola e saúde públicas de qualidade e violência contra negros e desfavorecidos.

Nesse contexto, a ampliação da diversidade nos espaços de decisão ajudará a lidarmos de forma mais assertiva com os problemas que afligem a população. Um processo de inclusão bem gerido tem o potencial de se tornar um importante indutor de progressos sociais e de prosperidade econômica.

Nesse processo, é fundamental investirmos na formação das pessoas para que elas adquiram maiores competências e possam dar respostas à altura dos desafios que a sociedade brasileira enfrenta. Ao mesmo tempo, precisamos ter cuidado para identificar aqueles talentos que foram formados e não estão encontrando espaço por falta de oportunidades.

O texto é uma homenagem à música "Manda chamar", interpretada por Griot, com participação de Roberto Mendes e Tiganá Santana. O vídeo do Griot cantando essa música, em um dos melhores shows realizado no Sesc Pompéia, está disponível no Youtube.

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