Se existe uma unanimidade em relação à seleção brasileira, ela é o cansaço do torcedor em relação às constantes simulações que vemos em campo, um teatro espalhafatoso que hoje, para nossa vergonha coletiva, já está associado à camisa amarela.
As dezenas de câmeras distribuídas pelo gramado não deixam dúvidas a respeito dos fingimentos, e ainda assim os jogadores insistem em ofertar ao mundo múltiplas imagens de exageros e de farsas.
Simular é fazer parecer real uma coisa que não é real. Simulações são mentiras, e já não aguentamos mais mentiras, venham elas do campo, do Congresso, do Planalto; da boca de políticos e empresários, do show de Neymar e companhia. Mente o jogador que cai levando as mãos ao rosto para tentar induzir o juiz a expulsar o adversário, mente o narrador que se esgoela por uma emoção que não estamos vendo na tela, mente a propaganda que tenta fazer do treinador da seleção uma espécie de guru-futebolístico-nonsense. Já percebemos o truque, mas o sistema é viciado em mentir e não opera sem elas. Nem deveria, já que os resultados são sempre positivos.
Ao aplicar estímulos condicionantes em um organismo, as respostas são comportamentos desejados. Somos facilmente condicionados a práticas adequadas à manutenção de sistemas de poder. É a forma de fazer com que sigamos consumindo alucinadamente mesmo sabendo que o acúmulo vai acabar com o planeta.
Falsas necessidades são criadas e, feito ratinhos, seguimos girando a roda. Como válvula de escape, acabamos expressando nossa revolta esbaforindo contra a podridão moral do jogador que leva um totó na canela e rola dez metros uivando com a expressão de quem está tendo o fígado retirado com as mãos e sem anestesia. Não aguentamos mais o espetáculo da manipulação, aconteça ele onde for.
Há, entretanto, uma simulação que poderia nos reconciliar com as fundações de nosso futebol: o drible, o mais legítimo dos fingimentos, a mais poética das mentiras, a mais doce das enganações. Mas atualmente só praticamos o drible quando o resultado já está garantido, e a fim de humilhar quem já não consegue mais lutar.
Talvez por tudo isso o mascote Pistola seja a segunda unanimidade; um canário mal-humorado, emputecido, enfadado e que parece pensar: Brasil, me ajuda a segurar essa barra que é gostar de você.
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