Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mirian Goldenberg

Como ser uma boa escutadora de velhinhos

Às vezes os idosos sentem falta de quem queira ouvir com verdadeiro interesse suas histórias de vida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fui uma criança muito quieta, introspectiva e tímida. Sempre gostei mais de observar e de ouvir do que de falar; de ler e de escrever do que de brincar com outras crianças. Gostar de observar, ouvir, ler e escrever foi fundamental para a escolha da minha profissão. Como antropóloga, posso exercer diariamente as coisas que mais gosto de fazer.

Uma pesquisada, de 93 anos, me definiu como “uma escutadora dos velhinhos”.

“Você é uma escutadora dos velhinhos. Você presta muita atenção no que falamos, tem curiosidade e interesse por nossas histórias de vida”, disse ela. “Não é uma escuta como a de um médico, psicólogo, terapeuta. É uma escuta de amiga, de troca, de reciprocidade. É uma escuta atenciosa e profunda, coisa muito rara hoje em dia. Faz muito bem para a nossa alma.” Segundo a pesquisada, os mais jovens “só olham para o próprio umbigo”.

“Os jovens não sabem escutar, não têm paciência. Vivem em um universo paralelo, não têm o menor interesse por mim. Meus netos ficam bravos quando reclamo, acham que sou uma velha gagá quando digo que o celular é o verdadeiro umbigo dos jovens.”

Muitos homens e mulheres me contaram que se sentem invisíveis. Um músico, de 95 anos, disse que os velhos não são escutados com atenção, não se sentem reconhecidos e valorizados pelos mais jovens.

“Não existe mais conversa, meus netos nunca perguntam nada sobre a minha vida. Quando eu pergunto sobre a deles resmungam qualquer coisa para encerrar logo o papo. São escravos do celular.”

Ele disse que é difícil encontrar alguém que goste de conversar, que tenha algum interesse pela vida dele.

“É muito bom conversar com você. Muitas vezes me sinto um lixo quando sou ignorado pelos jovens. Parece que não existo, que não tenho a menor importância, que sou invisível e descartável. Será que é tão difícil assim deixar de lado o celular e prestar um pouco de atenção nos mais velhos?”

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.