Na minha pesquisa, perguntei: “Se você criasse um anúncio, com o objetivo de encontrar um parceiro, como se descreveria?”, muitas mulheres responderam: “Eu sou magra, jovem, atraente e sensual”. Nenhuma respondeu que é gorda, gordinha ou que tem mais de sessenta quilos.
Para uma estudante de moda de 19 anos, ser magra é a coisa mais importante da vida de uma jovem: “Cada vez que posto uma foto no Instagram, me sinto uma baleia. Tenho vergonha de ir à praia de biquíni, nunca tiro a canga. Uma amiga teve uma infecção intestinal e perdeu cinco quilos em uma semana. Estou morrendo de inveja do corpo dela. Se tiver sorte, também tenho uma infecção intestinal”.
Uma nutricionista, de 24 anos, relatou que desde criança sofre bullying por ser gorda: “Meu irmão me chama de ‘orca, a baleia assassina’. Meus apelidos na família são: fofinha, bolinha, gorduchinha. Já fiz de tudo para emagrecer e não consegui. Fumava um maço de cigarros por dia, tomava remédios sem receita médica para controlar o apetite. Quase fiz uma lipoaspiração, mas desisti depois das mortes de mulheres que fizeram esse procedimento”.
A obsessão das brasileiras com o corpo magro tem uma das suas manifestações mais perversas nas páginas da internet que incentivam a anorexia com fotografias de meninas esquálidas, apontadas como modelos de beleza. Essas páginas divulgam mandamentos que devem ser seguidos por aquelas que querem ser magras: “Não engula: morda, mastigue e jogue fora. Limpe banheiros bem sujos para perder a fome. Diga que você vai comer no quarto e jogue a comida na privada”.
Diante de tantas doenças e mortes de mulheres que buscam a beleza, a magreza e a juventude, é urgente refletir sobre uma questão: o que nós mulheres podemos fazer para não fortalecer modelos de corpo que provocam tantos sofrimentos e preconceitos contra a grande maioria das brasileiras?
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.