Alguns leitores me escreveram: “Mirian, por que você usa a palavra velhofobia? Não seria melhor ageismo, idadismo, gerontofobia?”
A resposta é simples: pelo mesmo motivo que não falo idoso, terceira idade, melhor idade etc. Meus amigos nonagenários preferem a palavra velho. E ainda gostam quando digo amorosamente que eles são os “meus velhos”.
“Sou velho mesmo, qual é o problema?”
Mudar a palavra não acaba a situação de violência, discriminação e preconceito que os mais velhos sofrem diariamente.
Você sabia que a maior parte da violência contra os velhos ocorre dentro de casa (85,6%)? E que os principais agressores são os filhos (52,9%) e netos (7,8%)? Violência física, psicológica, verbal, abuso financeiro, negligência, maus tratos, xingamentos fazem parte da vida dos velhos bem antes da pandemia. Existem leis contra o feminicídio e infanticídio que acontecem dentro de casa. Não estaria ocorrendo também um verdadeiro “velhocídio”?
Precisamos romper com a conspiração do silêncio que cerca a velhice, como defendia Simone de Beauvoir:
“Paremos de trapacear: o sentido de nossa vida está em questão no futuro que nos espera. Não sabemos quem somos, se ignorarmos quem seremos: aquele velho, aquela velha, reconheçamo-nos neles. Isso é necessário, se quisermos assumir na totalidade nossa condição humana. Para começar, não aceitaremos mais com indiferença a infelicidade da idade avançada, mas sentiremos que é algo que nos diz respeito. Somos nós os interessados”.
Somos nós os principais interessados em uma transformação radical dessa realidade, seja qual for a nossa idade cronológica. Cada um de nós, mesmo os mais jovens, deveria se reconhecer no velho que é hoje ou no velho que será amanhã: velho não é o outro, velho sou eu.
O que você está fazendo para combater a velhofobia? Como você está protegendo e cuidando dos seus velhos?
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