Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo

A arte de gozar

Como aprender a envelhecer com mais autonomia, autenticidade, amizade e alegria

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Em outubro de 2019, tive a alegria de conhecer as Avós da Razão em um Congresso em São Paulo onde falei sobre a "Revolução da Bela Velhice: projetos de vida, a importância da amizade e a busca da felicidade".

Helena tem 94 anos, Sonia, 84, e Gilda, 80. Elas se tornaram as Avós da Razão quando, em 2018, Cassia, uma querida amiga das três, teve a ideia de criar um canal no YouTube reproduzindo as conversas que elas gostam de ter nas mesas dos botecos. Era apenas uma brincadeira: Avós da Razão ou A Voz da Razão?

Elas sempre gostaram de beber, brincar e conversar sobre tudo, sem frescuras e sem tabus. A única diferença é que Cassia, de 58 anos, teve uma ideia genial: por que não ampliar essa divertida conversa entre amigas para mais pessoas que adorariam rir com elas?

Gilda, Sonia e Helena são as Avós da Razão - Divulgação

As três amigas sempre foram engraçadas, carismáticas, ousadas e irreverentes. A idade não mudou em nada o que elas sempre gostaram de fazer desde que se conheceram há mais de 50 anos. Aliás, elas me contaram que o tempo só melhorou tudo, inclusive a alegria, o bom humor e a coragem de serem "elas mesmas".

No Instagram elas têm 220 mil seguidores e, no YouTube, 90 mil. O que elas mais gostam de fazer juntas é o que sempre fizeram: gozar a vida, gozar dos outros e, principalmente, gozar de si mesmas. Só para dar uma ideia da gozação que elas fazem, seguem trechos de dois vídeos que publiquei recentemente no meu Instagram, em colaboração com as Avós da Razão.

Vídeo 1: Um sonho de Sonia

"Eu sonhei um sonho muito estranho: eu estava em uma manifestação de peidos. Eu estava muito empolgada com a manifestação, mas ao mesmo tempo eu tinha uma grande preocupação com o efeito estufa. Imagina sonhar com o efeito estufa? Eu acordei como se tivesse saído de um pesadelo, entre peidar e detonar o planeta. Foi um evento muito participativo, e todo mundo tinha o seu momento de soltar o peido. Tinha uma certa ordem, não era o caos. Foi muito bonito, muito animado. Eu era uma ativista, mas eu estava tão preocupada que nem pude aproveitar. Se não fosse esse meu sentimento de culpa teria sido um sucesso."

Vídeo 2: Uma conversa entre Gilda e Sonia

"A mulherada está saindo da cristaleira, mas ainda é difícil. Por causa do diabo que esperam da mulher: que mulher não tenha sexo, não goze, trepe só para ter filho, é isso que esperam de uma mulher bem comportada do lar. Imagina agora com esses aparelhinhos? O duro é que esses aparelhinhos agora estão caros. Antes era tão mequetrefe, antigamente ninguém ligava para essa porra. Um dia eu falei: ‘agora vou num sex shop’. Fui na internet ver onde tem um sex shop perto de casa e encontrei uma loja ótima. Entrei e comecei já rindo. Gente, tem cada coisa engraçada. Tem uns paus que você fala: gente, onde cabe esse pau? É de Itu?"

Por que considero as Avós da Razão o melhor exemplo da Revolução da Bela Velhice?

Porque elas são autênticas, irreverentes, inteligentes, corajosas, debochadas. Não fazem nada para lacrar ou lucrar, querem apenas compartilhar com mais gente a alegria de viver e de envelhecer com mais liberdade, felicidade e bom humor. Elas sabem que dar risadas é mais revolucionário do que dar receitas de como envelhecer bem. É na prática cotidiana que elas provam que a velhice está sendo a melhor fase das suas vidas.

As Avós da Razão não têm medo da opinião dos outros, nem de serem xingadas de "velhas ridículas". Elas fazem das próprias escolhas diárias um exemplo concreto de que é possível envelhecer com autonomia, beleza e alegria. Elas não se tornaram invisíveis, muito pelo contrário. Elas são "elas mesmas" e não sentem vergonha dos seus corpos, desejos e prazeres.

E, o mais importante de tudo, elas sabem rir de si mesmas, não se levam a sério e preferem gozar a vida com as amigas a desperdiçar o tempo reclamando e se fazendo de vítimas. Em tempos de tanto egoísmo, ódio, intolerância, preconceito e violência, gozar é um ato revolucionário.

Quem topa ir comigo e com as Avós da Razão na manifestação dos peidos fazer a Revolução da Bela Velhice?

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