Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo

Mitos e mentiras sobre sexo de verdade

Pesquisas revelam tabus, preconceitos e obstáculos para o prazer e satisfação sexual

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma pesquisa realizada no Reino Unido pela YouGov, entre 21 de janeiro e 14 de fevereiro de 2023, com 2.996 mulheres e 2.811 homens, revelou que 41% dos entrevistados acham que estimulação oral no pênis não é sexo e 40% consideram que estimulação oral no clitóris também não é sexo. Mais ainda, 52% acham que masturbação não é "sexo de verdade". Os principais resultados da pesquisa são estes:

Estimulação oral no pênis

  • 45% consideram como "fazer sexo"

  • 41% não consideram

  • 8% não sabem

  • 7% preferem não responder

Estimulação oral no clitóris

  • 44% consideram como "fazer sexo"

  • 40% não consideram

  • 8% não sabem

  • 7% preferem não responder

Estimulação do clitóris com o dedo

  • 37% consideram como "fazer sexo"

  • 48% não consideram

  • 8% não sabem

  • 7% preferem não responder

Masturbação do pênis

  • 34% consideram como "fazer sexo"

  • 52% não consideram

  • 7% não sabem

  • 7% preferem não responder

A psicóloga e sexóloga Ana Canosa, na sua coluna "Não existem preliminares: tudo o que você está fazendo já é sexo" (UOL, 4/4/2023), afirmou que uma pesquisa no Brasil traria resultados semelhantes, já que aqui masturbação e sexo oral são considerados preliminares à penetração ou alternativas para quando a penetração está difícil de acontecer.

Ana Canosa destacou que, "para driblar a imposição da virgindade feminina", homens e mulheres preferem algumas práticas que garantam "o não rompimento do hímen, o que simbolicamente não configuraria sexo". A não penetração pode ser usada como justificativa para violências físicas e psicológicas, com justificativas do tipo "Mas foi só masturbação, não houve penetração" ou ainda "Foi só sexo oral, não foi sexo de verdade", negando os aspectos traumáticos envolvidos em assédios e abusos sexuais.

Ilustração de Orlando sobre sexo oral - Orlando

A pesquisa britânica descobriu uma diferença interessante entre os entrevistados de acordo com a idade: as pessoas mais velhas são mais propensas a considerar sexo oral e estimulação com dedos como sexo, já que 45% dos entrevistados de mais de 50 anos disseram que masturbação conta como sexo, contra apenas 23% das pessoas de 18 a 49 anos.

Com o passar dos anos, de acordo com Ana Canosa, vamos ganhando experiência e sabedoria para entender que é excludente restringir o significado e o prazer sexual à penetração e que tanto a estimulação oral quanto a masturbação podem ser práticas sexuais prazerosas e gratificantes.

Mas, afinal, masturbação e sexo oral, sem penetração, são ou não "sexo de verdade"?

No meu novo livro "A arte de gozar: amor, sexo e tesão na maturidade", revelo que, para algumas mulheres que entrevistei, a penetração, sem preliminares, pode ser muito dolorosa, incômoda, desconfortável e desagradável, como contou uma psicóloga de 65 anos.

"Lembra do caso do Bill Clinton com a estagiária? Meu ex-marido dizia que aquilo não foi sexo de verdade, pois não teve penetração, foi só sexo oral e masturbação. Em trinta anos de casamento, ele nunca me masturbou ou fez sexo oral. Acho que tinha nojo. Era só penetração, do tipo papai e mamãe, vapt vupt. Ele queria gozar rapidinho, achava que iria brochar se ficasse cinco minutinhos de nheco-nheco antes da penetração. Eu tinha medo e vergonha de falar o que eu queria e sentia, aí eu fingia que gozava para acabar logo com aquela tortura, porque eu sentia muita dor ou porque estava exausta e queria dormir. Eu só sentia prazer e gozava me masturbando com o vibrador, assistindo vídeos pornôs".

A psicóloga se separou quando descobriu que o marido "transava com garotas de programa". "Não sei como fiquei tanto tempo com um homem tão cafajeste, mentiroso e egoísta". Há seis meses, ela está namorando um músico de 52 anos que conheceu em um aplicativo de relacionamentos.

"Eu já tinha desistido do amor e do sexo, mas encontrei um homem que está me fazendo sentir de novo muito tesão. Ficamos horas na cama nos massageando, fazendo sacanagem, rindo e brincando. Ele faz tudo para me dar prazer, não se cansa de me beijar e de me acariciar até eu gozar. Depois da separação, prometi a mim mesma nunca mais sentir dor no sexo nem fingir orgasmo. Sexo de verdade é o sexo que dá prazer aos dois, não só ao homem."

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.