Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo casamento

O que é 'dar certo' no amor?

Mulheres querem mais respeito, reciprocidade e reconhecimento; homens querem mais carinho, cuidado e compreensão

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Há mais de trinta anos, desde meu primeiro livro "A Outra: um Estudo Antropológico sobre a Identidade da Amante do Homem Casado", de 1990, até "A Arte de Gozar: Amor, Sexo e Tesão na Maturidade", de 2023, busco responder à mesma questão: o que é "dar certo" no amor?

Nas minhas pesquisas com 5.000 homens e mulheres, dos 18 aos 98 anos, as mulheres disseram que, para o amor "dar certo", é preciso cultivar o respeito, a reciprocidade, o reconhecimento, a intimidade, a escuta, a conversa, a confiança, a fidelidade, o companheirismo, a admiração, a amizade, a atenção, o tesão, o romance, o beijo na boca e muito mais... A lista feminina é interminável. Já os homens foram mais econômicos: eles querem mais carinho, cuidado e compreensão.

Recentemente, uma jornalista me pediu um exemplo de casal que "deu certo" no amor. Imediatamente pensei em Lidiane e Tony Ramos.

Ator Tony Ramos sorri ao lado da mulher, Lidiane
Lidiane e Tony Ramos é um exemplo de casal que 'deu certo' no amor - Zô Guimaraes 3.jul.2014/Folhapress

Tive a alegria de participar de uma mesa do MaturiFest 2021 com Tony Ramos. Além de carismático, engraçado, carinhoso, atencioso, generoso, o que mais me encantou foi o amor e a admiração que ele demonstrou ter por Lidiane, com quem é casado desde 1969: 54 anos de um amor que "deu certo".

Aos 75 anos, ele não economiza declarações de amor a Lidiane.

"Quando eu olhei aquela moça, eu falei: 'vixe, Maria, que moça linda!' Isso é paixão. Depois vem o amor, a vontade de estar junto, querer construir uma família. É respeito, é vontade, é carnal, é calor, é vontade de estar junto, de se enrolar, de botar a cabeça no colo".

Qual é o segredo para o amor "dar certo"?

"Amor, muito amor. Muita transpiração, muita vontade de pegar na mão, muita vontade de estar junto. Olhar no fundo dos olhos daquela companheira dos momentos mais difíceis. Essa é a verdadeira razão de um casamento sem receita. Apenas deu certo, por amor, afeto e calor. Nada é maior do que eu chegar depois do trabalho e ela estar lá na sala, vendo alguma coisa na TV. Eu tomo banho, estico a cabeça naquele colo, recebo um beijo, e ali eu vejo definitivamente o grande amor da minha vida".

Tony Ramos, além de ser um ator excepcional, é um homem apaixonado. E Lidiane é uma sortuda de ser amada do jeitinho que tantas mulheres gostariam de ser amadas.

"A parceira que eu tenho é tudo. Ela pegou o começo de toda a luta, sabe o que eu penso, como eu penso. A gente se entende só pelo olhar... Ela é o prumo, o Norte, sempre está ali, uma vida clara e transparente. É por isso que ela é definitivamente o grande amor da minha vida, uma companheira incrível".

Eu só encontrei "o grande amor da minha vida" aos 57 anos. Será que os outros amores que vivi não "deram certo" porque terminaram? Ou será que só estou vivendo um amor mais maduro e companheiro porque vivi amores que "deram certo" enquanto duraram?

Aos 21 anos, quando me casei, eu queria ser uma mulher independente, trabalhar, ganhar meu dinheiro. Dois anos depois, me separei. Meu primeiro marido queria ter filhos, eu nunca quis. Hoje, ele é um grande amigo e um vovô extremamente dedicado aos netos.

Na época, meu trabalho era o propósito mais importante da minha vida (continua sendo) e, foi assim que, no meio de uma reunião, conheci meu segundo marido. Dos 25 aos 27 anos vivi um amor lindo, mas muito imaturo: era insuportável uma vida com tantas disputas, competições e briguinhas bobas e infantis.

Aos 33, casei com um homem que bebia muito e fumava dois maços de cigarro por dia, com sérios problemas de saúde. Cuidei bastante dele, até o dia em que descobri que ele me traía. Ele mesmo me contou que sempre transou, inclusive durante o nosso casamento, com "garotas de programa, porque é muito mais leve e divertido".

Tempos depois, tive um casamento "cada um na sua casa", com muitas coisas boas, mas com uma enorme dificuldade de comunicação.

E, aos 57, sem qualquer expectativa, encontrei o "grande amor da minha vida". Ainda com muitos medos, desconfianças e inseguranças, em função dos amores e desamores que vivemos antes, estamos tentando, todos os dias, que nosso amor "dê certo". Dá trabalho!

Parafraseando Rubem Alves, penso que a pergunta mais importante para saber se meu casamento irá "dar certo" é: "Terei prazer de conversar e dar risadas com meu marido daqui a trinta anos?". Eu acredito que sim e ele também. Querido Tony, será que nosso amor está "dando certo"?

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