Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Descrição de chapéu Corpo Todas casamento

Por que tantas mulheres são traídas por 'golpistas emocionais'?

Será que algumas mulheres têm dedo podre para escolher os parceiros?

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"No amor, existe a pessoa certa?". Este foi o tema do podcast Mamilos, de 25 de junho. A questão surgiu como resultado de uma suposta lista de exigências que o ator Cauã Reymond desejava em uma parceira: ela deveria ser caseira, gostar de acordar e de dormir cedo, ter uma rotina saudável e fazer exercícios. Em 2022, Viola Davis revelou para Oprah Winfrey que fez uma lista das características que ela sonhava que seu futuro marido tivesse e que rezou muito para que Deus atendesse às suas preces. Três semanas depois, ela começou a namorar o seu atual marido que correspondia a todos os requisitos da lista.

Aconteceu mais ou menos o mesmo comigo, só que ao contrário. Em agosto de 2014, quando começamos a namorar, meu atual marido me contou que, cansado de relações tóxicas e conflituosas, havia pedido a Deus para encontrar o grande amor da sua vida: uma mulher com quem pudesse construir uma vida feliz, gostosa e tranquila. Ele fez o pedido uma semana antes do nosso primeiro encontro. Até hoje, ele agradece a Deus por suas preces terem sido atendidas.

A imagem mostra a cantora Iza com maquiagem vibrante, incluindo sombra de olhos verde brilhante e batom preto. Ela está usando tranças decoradas com contas coloridas e acessórios. E está com um dedo na boca, exibindo um anel dourado em forma de garra.
A cantora Iza anunciou recentemente o fim de seu casamento com o jogador Yuri Lima após ter sido traída - MarVin - 2.ago.23/Divulgação

As apresentadoras do podcast, Cris e Ju, me perguntaram: "Afinal, existe a pessoa certa?"

Respondi que não acredito que exista pessoa certa ou errada, mas acho que algumas pessoas podem nos fazer muito bem, nos ajudar a crescer e amadurecer, enquanto outras podem nos fazer muito mal e destruir a nossa autoestima. Mais ainda, em determinado momento da vida, uma pessoa pode ser exatamente o que nós mais precisamos e, em outro, a mesma pessoa pode ser extremamente tóxica: um vampiro emocional que suga a nossa energia, alegria e saúde física e emocional.

Aos 21 anos, casei-me com o meu primeiro namorado. Ele era o que eu mais precisava naquele momento: um homem mais velho, que me salvou de uma família violenta e adoecida. Ele queria ter filhos; eu não. Aos 23 anos, me separei. Ele se casou novamente e teve dois filhos, e, atualmente, é um vovô muito apaixonado pelos netinhos.

Até 2014, só me relacionei com homens mais velhos que me faziam sentir mais segura e protegida. Hoje, só tenho uma única exigência: quero confiar 100% no meu parceiro, ter a certeza de que ele não vai me machucar, mentir ou trair.

"Será que algumas mulheres têm dedo podre para escolher os parceiros?", Cris e Ju me perguntaram.

Não acho que é "dedo podre", mas algumas mulheres podem se sentir tão carentes e inseguras que, quando aparece alguém que oferece algo que elas precisam, acabam se agarrando a migalhas de amor e de atenção.

Minha primeira pesquisa antropológica, em 1990, foi sobre amantes de homens casados. Elas me disseram que se sentiam "a única", "a verdadeira companheira", "a número um", e que a verdadeira "Outra" era a esposa traída. Assim, encontraram justificativas para manter um relacionamento bastante insatisfatório, incompleto e infeliz.

Eu, que busco tanto um parceiro em que possa confiar 100%, já fui enganada por "golpistas emocionais": além de ser traída por um marido com garotas de programa, assinei, sem ler, um documento importante para um namorado. Até hoje eu me xingo de burra por ter assinado cheques em branco. Como pude confiar em cafajestes?

Apesar de ter tido relacionamentos com homens amorosos, carinhosos e fiéis, sei que nunca vou conseguir ter o que realmente preciso, pois as feridas da infância ainda não cicatrizaram (e provavelmente nunca irão cicatrizar). Carrego traumas da infância que, até hoje, me fazem sentir como a mesma menininha abandonada e desamparada, escondida no armário com pavor das brigas, gritos e espancamentos. Procuro ter cuidado para não exigir que o meu marido me faça sentir 100% segura, pois tenho certeza de que, mesmo que ele faça absolutamente tudo para eu confiar nele, continuo tendo pânico de ser machucada e traída.

Após mais de três décadas de pesquisas, sempre me pergunto: Por que uma pessoa que é simpática e agradável fora de casa, dentro de casa é a sua pior versão? Por que, com a desculpa da intimidade, ela se sente no direito de ser grosseira e agressiva? Por que não consegue enxergar que, ao não respeitar as necessidades e limites do outro, pode perder o grande amor da sua vida?

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