Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Não é isso tudo', diz Ricardo Pereira sobre violência no Brasil

'Esse Brasil também é meu', afirma o ator português

Ricardo Pereira quer ir para Hollywood. Nascido em Portugal, o ator vive no Brasil há 14 anos. Aqui, fez 11 novelas na TV Globo e cinco filmes, mas afirma que chegou o momento de fazer as malas outra vez.


"Devia estar quieto e sossegado. Tenho três filhos. Mas tá na hora. Pros meus filhos vai ser bacana passar um tempo lá e eu vou poder me reciclar. Vou contratar dois ou três professores bons de atuação para trabalhar comigo e a gente começar do zero. O que pintar por ter um bom empresário, vou agarrar", diz ele para a repórter Bruna Narcizo. O ator pretende se mudar para os Estados Unidos em 2019.


A primeira vez que saiu da casa dos pais, em Portugal, foi aos 14 anos, para morar em Milão e trabalhar como modelo. Até chegar ao Rio de Janeiro, em 2004, viveu em outros oito países. "Comecei na Europa, vim para América do Sul e agora quero ir para a América do Norte. Pronto, o mundo está feito", afirma.


Ele tinha 19 anos quando começou a carreira de ator. Entre o Brasil e Europa, Pereira trabalhou ao lado de grandes nomes do cinema mundial.


"Rodei o mundo com o [diretor chileno] Raoul Ruiz, que morreu depois de fazer [o filme] 'Mistérios de Lisboa', que eu considero uma obra-prima. Eu fiz um dos protagonistas e isso me deu um reconhecimento do cinema cult, com uma crítica maravilhosa no jornal 'The New York Times'", conta.


Foi graças ao diretor que ele conheceu o americano John Malkovich. "É um homem que admiro muito", diz Pereira. O ator também trabalhou com os franceses Gérard Depardieu e Bérénice Bejo. "Aos 22 eu tava fazendo um filme com a Bérénice. E 15 anos depois ela tava sentada indicada ao Oscar de melhor atriz por 'O Artista'", diz.


O ator e a mulher, Francisca, que também é portuguesa, tiveram os três filhos no Brasil. "A maior parte da nossa história de amor foi feita aqui. O quesito trabalho me inibia de ter uma mulher dando à luz em Portugal. Queria viver esse momento com ela, perto dela e com tempo. Meus filhos nasceram aqui. Isso é algo especial e será sempre", diz.


Ricardo admite que criar seus filhos no Rio de Janeiro, especialmente com a onda de violência que assolou o Estado nos últimos meses, é motivo de preocupação. "Estamos passando por um momento muito delicado, não só no Rio, mas no Brasil inteiro. Mas também passamos por momentos interessantes. Eu, como uma pessoa que veio de fora para cá, sinto que nos últimos anos muitas coisas mudaram e melhoraram", diz.


"Às vezes me falam [na Europa]: No Brasil tem muito assalto. Eu explico que é um continente, que se eu viajar de uma ponta a outra do Brasil eu vou de Lisboa à Rússia e no caminho eu passei por cinco países. Quando vejo alguém falar, digo: Calma, não é isso tudo. Porque esse Brasil também é meu", conta.


Ele diz que prefere não se envolver em política ou comentar sobre esse ou aquele candidato. "A política é muito volátil. Não tem tantas ideologias por trás, tem coisas maiores ou menores que a comandam", diz. "A política seria melhor em qualquer parte do mundo se tivesse uma divisão de poder honesta. Ou seja, que não se decidisse apenas com o desejo da maioria."


"[A política] Deveria ser uma junção de várias ideias e ideais que promovam o espírito coletivo e que toquem realmente, abordem, todas as hierarquias e classes sociais. Quando a gente bota um partido político no poder como maioria absoluta, ele pode impor determinadas leis. Acho que deveríamos ter algo como parlamentarismo. Óbvio, não sou um especialista em política, óbvio que isso terá coisas boas e ruins. Mas eu acho que seria pelo menos mais justo."


O ator usa o exemplo de Portugal para manter o otimismo com relação ao Brasil. "Há três anos, aqui o momento era estonteante e a crise que Portugal estava vivendo... Tudo é cíclico. Falo isso para meus amigos brasileiros", diz.


Ricardo conta que aprendeu nesses 14 anos de Brasil que "pode estar no sufoco, mas o brasileiro consegue fazer uma festa". "Às vezes a gente não pode partir muito para a festa, porque faz esquecer demais a realidade. Mas essa rapidez de se tornar feliz, de sorrir no momento que não é para sorrir. Isso dá um 'up'".


Segundo ele, a guinada portuguesa não é apenas reflexo de um bom governo. "É reflexo de governo atrás de governo que não diga assim: Tomei posse agora, tudo que estava para trás é errado. Não é possível que um governo fique quatro ou oito anos em um lugar e não tenha feito nenhuma coisa certa. Alguma coisa fez. Pessoas que chegam no poder e esquecem tudo que os outros fizeram estão dando tiro no próprio pé. Vai impossibilitar a qualidade de vida dos filhos e netos dele", comenta.


O ator foi convidado pelo atual governo de seu país para participar de um conselho da diáspora, formado por portugueses bem-sucedidos em outras terras. "São 60 portugueses espalhados pelo mundo em vários meios na economia, na cultura, na saúde que são escolhidos pelo Presidente da República em questão para representar o país no mundo e trazer o mundo para Portugal", diz.


Ricardo acorda todos os dias às 6h30 para praticar crossfit. O esporte foi a maneira que encontrou para construir o corpo do vilão Virgílio, da novela das 19h da TV Globo "Deus Salve o Rei". "Queria que ele fosse um cara seco, trincado. Que você visse isso no rosto, no cabelo, no corpo. É violento isso [crossfit], mas ao mesmo tempo é inspirador", conta.


Ao longo da carreira, foram 23 novelas, 18 longas e 15 peças de teatro.


"Não gosto de fazer mapa astral, de saber nada do meu futuro. Meu futuro será o caminho que vou trilhando."

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